quarta-feira, 30 de setembro de 2015

JOSÉ ANDERSON NASCIMENTO - ASL



Excelentíssimo Senhor Doutor
JOSÉ ANDERSON NASCIMENTO,
Presidente desta Academia de Letras.
Excelentíssimos Acadêmicos e Acadêmicas.
Senhoras e Senhores.


A minha fala de hoje cuida de Sátira, um gênero literário em extinção.
Acredito que eu seja, no início deste século, o único poeta e escritor satírico deste país.
Sou discípulo do famoso escritor satírico, Swift e outros.
Consta que o inventor da Sátira poética tivesse sido Lucíolo, seguido de Horácio.
Com Juvenal, a Sátira passou a explorar o pessimismo, tornando-se mordaz e ofensiva.
Ao tomar conhecimento das minhas Sátiras, o saudoso Mário Cabral comparou-me a Gregório de Matos, o mais notável poeta satírico do Brasil Colonial.

Senhor Presidente:

No ano de 1954 eu assumi o cargo de chefe da seção de contas correntes do Banco Mercantil de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro.
Com muita frequência eu trabalhava das 8 horas da manhã até a meia-noite, quando saia do banco para tomar o trem da Central do Brasil e viajar para o bairro do Meyer, onde residia.
Durante dois anos eu fui escravo desse banco.
Finalmente, lembrei-me que era Contador, e que a atividade bancária me decepcionava.
Então, dentre de mais de cem candidatos, eu fui selecionado para o cargo de Sub-Contador da Metro Goldwyn Mayer of Brazil. O expediente terminava às 17 horas.
Conheci, então, o gosto da liberdade.
O banqueiro está na lista dos patrões mais exploradores de seus empregados.
Ao recordar aquele tempo de escravidão, com o auxílio da minha Musa, compus a sátira O BANQUEIRO, que ora dou conhecimento a esta Academia.


Aracaju, 17 de setembro de 2015.



SÁTIRA
(O Banqueiro)



O banqueiro, no nosso querido Brasil,
é belo, rico, orgulhoso e varonil,
como o Papa, vive retirado,
para gozar do seu reinado!
Engorda, ele, de dinheiro o bolso,
e pode mandar o devedor ao calabouço!
O banqueiro é “barrigudo” como um Rei,
e o Banco Central ajuda à sua grei!
Tem vida faustosa de Marajá.
Sua fortuna não para de aumentar!
É mau patrão e usurário,
carrasco do pobre do bancário.
O banqueiro, como capitalista,
empresta a padre e a materialista.
É ele eterno parasita da nação,
desprovido de ética e de coração!
Como amigo dedicado aos poderosos,
não gosta de pagar os seus impostos!
O banqueiro é da Jangal lobo faminto,
e também tigre-asiático – se não minto –
Habita a densa floresta da espoliação
e jamais morrerá de sede ou inanição!
Esse gênio – espirito do mal,
nos derruba como um vendaval.
O banqueiro vive no Paraíso.
Só o incomoda quem não tem juízo.
Sem talento para ser escritor,
de poetas o banqueiro tem horror!
Os filhos não vão à pública escola.
Ao pedinte não dá pão nem esmola!
Banqueiro não sofre calor ou frio,
seja no inverno ou no estio.
Viaja de avião ou navio luxuoso,
levando a família e até o cachorro!
O banqueiro é exímio explorador:
Explora o comerciante, usineiro, agricultor.
Explora até o médico que o livra da dor!
Explora a própria mãe e o exportador,
sem piedade e sem o mínimo de amor!
Banqueiro come pão de trigo,
e o bancário come pão de milho.
O Banqueiro ignora do cliente a agonia,
e somente a perda de dinheiro aborrece sua senhoria!
Com a morte o banqueiro irá se haver,
e não adianta no dinheiro se esconder!
Esse homem sem justiça e desalmado,
um dia será defunto e condenado
a viver nas chamas do fogo eterno
que crepitam na fornalha do inferno!

Edson Valadares
(O único poeta satírico do
Brasil na atualidade)

Aracaju, 20/09/2013
(Quando o Sol desmaiava no poente!)

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