Excelentíssimo
Senhor Doutor
JOSÉ
ANDERSON NASCIMENTO,
Presidente
desta Academia de Letras.
Excelentíssimos
Acadêmicos e Acadêmicas.
Senhoras
e Senhores.
A minha fala de hoje cuida de Sátira, um gênero
literário em extinção.
Acredito que eu seja, no início deste século, o
único poeta e escritor satírico deste país.
Sou discípulo do famoso escritor satírico, Swift
e outros.
Consta que o inventor da Sátira poética tivesse
sido Lucíolo, seguido de Horácio.
Com Juvenal, a Sátira passou a explorar o
pessimismo, tornando-se mordaz e ofensiva.
Ao tomar conhecimento das minhas Sátiras, o
saudoso Mário Cabral comparou-me a Gregório de Matos, o mais notável poeta
satírico do Brasil Colonial.
Senhor Presidente:
No ano de 1954 eu assumi o cargo de chefe da
seção de contas correntes do Banco Mercantil de São Paulo, na cidade do Rio de
Janeiro.
Com muita frequência eu trabalhava das 8 horas
da manhã até a meia-noite, quando saia do banco para tomar o trem da Central do
Brasil e viajar para o bairro do Meyer, onde residia.
Durante dois anos eu fui escravo desse banco.
Finalmente, lembrei-me que era Contador, e que
a atividade bancária me decepcionava.
Então, dentre de mais de cem candidatos, eu fui
selecionado para o cargo de Sub-Contador da Metro Goldwyn Mayer of Brazil. O
expediente terminava às 17 horas.
Conheci, então, o gosto da liberdade.
O banqueiro está na lista dos patrões mais
exploradores de seus empregados.
Ao recordar aquele tempo de escravidão, com o
auxílio da minha Musa, compus a sátira O BANQUEIRO, que ora dou conhecimento a
esta Academia.
Aracaju, 17 de setembro
de 2015.
SÁTIRA
(O
Banqueiro)
O
banqueiro, no nosso querido Brasil,
é
belo, rico, orgulhoso e varonil,
como
o Papa, vive retirado,
para
gozar do seu reinado!
Engorda,
ele, de dinheiro o bolso,
e
pode mandar o devedor ao calabouço!
O
banqueiro é “barrigudo” como um Rei,
e
o Banco Central ajuda à sua grei!
Tem
vida faustosa de Marajá.
Sua
fortuna não para de aumentar!
É
mau patrão e usurário,
carrasco
do pobre do bancário.
O
banqueiro, como capitalista,
empresta
a padre e a materialista.
É
ele eterno parasita da nação,
desprovido
de ética e de coração!
Como
amigo dedicado aos poderosos,
não
gosta de pagar os seus impostos!
O
banqueiro é da Jangal lobo faminto,
e
também tigre-asiático – se não minto –
Habita
a densa floresta da espoliação
e
jamais morrerá de sede ou inanição!
Esse
gênio – espirito do mal,
nos
derruba como um vendaval.
O
banqueiro vive no Paraíso.
Só
o incomoda quem não tem juízo.
Sem
talento para ser escritor,
de
poetas o banqueiro tem horror!
Os
filhos não vão à pública escola.
Ao
pedinte não dá pão nem esmola!
Banqueiro
não sofre calor ou frio,
seja
no inverno ou no estio.
Viaja
de avião ou navio luxuoso,
levando
a família e até o cachorro!
O
banqueiro é exímio explorador:
Explora
o comerciante, usineiro, agricultor.
Explora
até o médico que o livra da dor!
Explora
a própria mãe e o exportador,
sem
piedade e sem o mínimo de amor!
Banqueiro
come pão de trigo,
e
o bancário come pão de milho.
O
Banqueiro ignora do cliente a agonia,
e
somente a perda de dinheiro aborrece sua senhoria!
Com
a morte o banqueiro irá se haver,
e
não adianta no dinheiro se esconder!
Esse
homem sem justiça e desalmado,
um
dia será defunto e condenado
a
viver nas chamas do fogo eterno
que
crepitam na fornalha do inferno!
Edson
Valadares
(O
único poeta satírico do
Brasil
na atualidade)
Aracaju,
20/09/2013
(Quando
o Sol desmaiava no poente!)