O ATEU
Numa noite enluarada,
No leito de uma casa caiada,
Sita à beira da estrada,
Os meus pais me geraram.
No ventre de minha mãe,
Onde o meu ser
Lentamente se formava
Conforme as leis
Da misteriosa Natureza,
Eu dormia noite e dia.
Somente ali fui feliz
Por ignorar o porvir,
Por ignorar a vida,
Por ignorar a morte,
Por ignorar a Deus!
Minha doce mãe,
A mais bela mulher do sertão;
Católica de coração,
Rezava pelo filho
Ainda em gestação,
Rogando ao seu Deus
Um parto feliz
E ventura ao embrião.
Numa manhã de sol,
Eu nascia e já chorava,
Prevendo as dores deste mundo.
Fui crescendo como a planta
E admirava o Universo,
Sem dele nada compreender.
Eu indagava a meus pais
E a mim mesmo perguntava
Se a vida era sofrer.
Meu pai, protestante,
À sua igreja me levava.
Minha mãe bondosa
À sua igreja me conduzia.
E daquilo eu nada compreendia.
Cresci um pouco mais
E daquelas igrejas me afastava.
Na escola primária,
Estudava à força religião.
Do padre ouvia sermão,
Falando de pecado
Como obra do Diabo!
A encenação da missa
Me parecia um teatro.
A missa rezada em latim
Entorpecia os beatos.
Em nada eu acreditava
E às religiões abominava.
O padre condenava o Ateu.
Mas o que seria o Ateu?
Argui minha professora
E ela se benzendo me explicou.
E me deu a resposta
Que desde o berço eu procurava.
E, então, feliz eu estava
Ao descobrir que já no ventre
De minha mãe querida
Eu era ateu.
Aracaju, 29/3/2002
Nota -
ao ser comparado, como poeta, a Goethe e a Shakespeare, o notável crítico
literário, dr. Mário Cabral, elegeu-me o maior poeta do Brasil e do mundo no
século XXI. Candidato ao Prêmio Nobel de 2017
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