ANO: 2011
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JANEIRO
8.
Após a quinquagésima sessão de fisioterapia
que somente agora começa a aliviar as dores da coluna, entro numa van com a
intenção de ir ao Centro da cidade apanhar numa farmácia o remédio receitado
por médico homeopata. Sofro do hipotálamo.
Após uma demora de 1h30, tempo que o
veículo levou para percorrer apenas 28 km, chego ao meu destino.
Sigo a rua Uruguaiana. Deveria ir à rua Sete de Setembro onde ficava
a farmácia.
Entretanto, por culpa da senilidade, tomei a rua
Buenos Aires. Após longa e cansativa
caminhada, chego ao Saara, um famoso centro comercial com 3.000 lojas.
Compreendo, então, o meu erro, ao entrar
naquele labirinto de um bairro dos mais antigos do Rio. Tomo a esmo, uma ruela estreita. Caminho devagar,
admirando aquela fileira de prédios antigos, alguns em descalabro. Ruínas.
Por sorte, o Sol brilha, mas eu continuo
desorientado. Evito incomodar os
passantes certamente preocupados consigo mesmos.
Ando por ruas desconhecidas. Vejo casas e pequenos edifícios com
balaustradas, arquitetura que me parecem do século XIX.
Finalmente, entro num bar, tomo um copo de
água mineral e pergunto ao proprietário onde ficava a rua Sete de Setembro.
Orientado, prossigo a minha marcha. Afinal, chego à Praça Tiradentes, minha antiga
conhecida.
Recobrei o senso, e logo chego à rua desejada.
Apanho os dois remédios que me custaram
preciosos R$ 146,00. Retorno a rua
Uruguaiana.
Nisso, um sujeito passa à minha frente. Paro. Ele se diz sergipano. Estava desempregado e iria embora para a
cidade de São Cristóvão/SE. Então,
começou a chorar, dizendo-me ter fome.
A minha experiência em muitas viagens
internacionais ensinou-me a não exibir nas ruas a carteira com dinheiro. Entretanto, temendo ser roubado, guardo nos
bolsos pequenas quantias.
As lágrimas do conterrâneo me parecem sinceras.
Meto a mão no bolso da camisa e dou-lhe R$
18,00.
Regresso a esta Ilha de ônibus com ar condicionado.
A temperatura nas ruas era de 34º.
Chego estafado ao apartamento. Após uma hora
de descanso, levanto-me para redigir esta crônica.
24.
Para matar saudades e saber
notícias de velhos amigos, fui a praia do Flamengo, praia esta onde por mais de 30 anos eu me banhava e
jogava peteca com aficionados companheiros, antes de aposentar-me.
O arquivo da minha
memória ainda guarda alegres e tristes recordações daquela época.
Aos sábados e domingos, encerrávamos o “expediente”
mais tarde, ou seja, aproximadamente às 11 horas.
Então, dirigíamo-nos a um bar sito numa rua
próxima, onde tomávamos “chopp” com camarão frito, após o que cada um seguia o
seu caminho. Eu costumava nadar quando calmas as águas da Baía da Guanabara,
essa dádiva da Natureza.
Os acontecimentos eram tristes quando chegavam
à margem da praia os corpos de afogados e corpos de pessoas assassinadas. Em
pensamento, revejo os rostos de muitos conhecidos e amigos visitados pela morte.
Restam poucos. Alguns deles já idosos, continuam a praticar o
jogo da peteca.
Tive a informação de que no ano passado três
dos meus melhores amigos partiram para nunca mais voltarem, como as andorinhas
de Raimundo Correia. Entristecido, entro
num vagão do Metrô, e na Rua Primeiro de Março tomo um ônibus de luxo e regresso
à Ilha do Governador carregando na alma o peso do passado.
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