terça-feira, 21 de março de 2017

Janeiro 2011



                                ANO: 2011
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                                 JANEIRO


8.              Após a quinquagésima sessão de fisioterapia que somente agora começa a aliviar as dores da coluna, entro numa van com a intenção de ir ao Centro da cidade apanhar numa farmácia o remédio receitado por médico homeopata.  Sofro do hipotálamo.  Após uma demora de 1h30, tempo que o veículo levou para percorrer apenas 28 km, chego ao meu destino.
 Sigo a rua Uruguaiana.  Deveria ir à rua Sete de Setembro onde ficava a farmácia.
 Entretanto, por culpa da senilidade, tomei a rua Buenos Aires.  Após longa e cansativa caminhada, chego ao Saara, um famoso centro comercial com 3.000 lojas.
 Compreendo, então, o meu erro, ao entrar naquele labirinto de um bairro dos mais antigos do Rio.  Tomo a esmo, uma ruela estreita. Caminho devagar, admirando aquela fileira de prédios antigos, alguns em descalabro. Ruínas.
 Por sorte, o Sol brilha, mas eu continuo desorientado.  Evito incomodar os passantes certamente preocupados consigo mesmos.
 Ando por ruas desconhecidas.  Vejo casas e pequenos edifícios com balaustradas, arquitetura que me parecem do século XIX.
 Finalmente, entro num bar, tomo um copo de água mineral e pergunto ao proprietário onde ficava a rua Sete de Setembro.
 Orientado, prossigo a minha marcha.  Afinal, chego à Praça Tiradentes, minha antiga conhecida.
 Recobrei o senso, e logo chego à rua desejada.
 Apanho os dois remédios que me custaram preciosos R$ 146,00.  Retorno a rua Uruguaiana.
 Nisso, um sujeito passa à minha frente. Paro.  Ele se diz sergipano.  Estava desempregado e iria embora para a cidade de São Cristóvão/SE.  Então, começou a chorar, dizendo-me ter fome.
 A minha experiência em muitas viagens internacionais ensinou-me a não exibir nas ruas a carteira com dinheiro.  Entretanto, temendo ser roubado, guardo nos bolsos pequenas quantias.
 As lágrimas do conterrâneo me parecem sinceras.  Meto a mão no bolso da camisa e dou-lhe R$ 18,00.
 Regresso a esta Ilha de ônibus com ar condicionado.  A temperatura nas ruas era de 34º.
 Chego estafado ao apartamento. Após uma hora de descanso, levanto-me para redigir esta crônica.


24.        Para matar saudades e saber notícias de velhos amigos, fui a praia do Flamengo, praia  esta onde por mais de 30 anos eu me banhava e jogava peteca com aficionados companheiros, antes de aposentar-me.
O arquivo da minha memória ainda guarda alegres e tristes recordações daquela época.
 Aos sábados e domingos, encerrávamos o “expediente” mais tarde, ou seja, aproximadamente às 11 horas.
 Então, dirigíamo-nos a um bar sito numa rua próxima, onde tomávamos “chopp” com camarão frito, após o que cada um seguia o seu caminho. Eu costumava nadar quando calmas as águas da Baía da Guanabara, essa dádiva da Natureza.
 Os acontecimentos eram tristes quando chegavam à margem da praia os corpos de afogados e corpos de pessoas assassinadas. Em pensamento, revejo os rostos de muitos conhecidos e amigos visitados pela morte.
 Restam poucos.  Alguns deles já idosos, continuam a praticar o jogo da peteca.
 Tive a informação de que no ano passado três dos meus melhores amigos partiram para nunca mais voltarem, como as andorinhas de Raimundo Correia.  Entristecido, entro num vagão do Metrô, e na Rua Primeiro de Março tomo um ônibus de luxo e regresso à Ilha do Governador carregando na alma o peso do passado.

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