ANO: 2010
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DEZEMBRO
3. As estatísticas desta “Metrópole”,
noticiadas pela mídia, são extraordinárias.
Colho as seguintes, as quais são
apenas simples amostragens.
A frota de taxis em circulação
nas ruas do Rio soma 32 mil veículos.
A previsão da Secretaria
Municipal de Turismo é de que sejam instalados 13 mil pontos de banheiros públicos;
209% a mais do que 2009.
O Rio caminhando vai...e em
breves anos será a meca de progresso do planeta, e do turismo.
São 32.000 o número de ônibus em
circulação no conúrbio.
A “urbis” é um permanente
canteiro de obras.
Ó que tristeza me dá sabendo que
não gozarei deste paraíso!
5. Faz 60 dias que permaneço nesta
Megalópole.
Tenho
a impressão que os dias passam-se lentos...e sem extraordinárias novidades.
A
estatística é uma das manias que professo.
Em
razão disso, estive calculando a quantidade de quilômetros e de degraus que
subi e desci nesse curto espaço de tempo.
E
me espanto do resultado.
Em
números redondos: Percorri a pé, de van, de ônibus e de metrô a distância
incrível de 3.000 km.
Desci
e subi cerca de 1.500 degraus, no apartamento onde me abrigo e no metrô.
Com
a saúde frágil e o peso dos anos, estou estarrecido por continuar vivo!
Somente
para ir e vir à clínica de fisioterapia já percorri 300 km.
Compreendo
que abuso do meu estado físico.
Estão
previstas 90 sessões de fisioterapia, ou seja, 900 km de viagens, sem contar os
quilômetros a pé.
No
último dia 3 a cidade foi atingida por uma tempestade digna de Shakespeare.
Sucessivos relâmpagos iluminavam o céu e trovões apocalípticos rugiam, raios
rabiscavam as nuvens.
Apavorado,
o cão inglês da minha neta abrigou-se no meu quarto, os olhos faiscando de
medo.
Já
era noite. A cidade alagada. O trânsito congestionado. A população sofrendo
dificuldade para chegar, em segurança, aos lares.
Já
era madrugada quando a tormenta cessou. E, então, consegui dormir.
10. O dia de ontem me foi bastante
extenuante. Como resultado do esforço físico e mental, ainda me sinto cansado
nesta manhã que promete praia.
O
edifício onde passam os meus lentos dias tem dois andares.
Sem
elevador, portanto.
Diariamente,
desço e subo 34 degraus, ou seja, 1.020 em 30 dias, afora os que enfrento no
metrô.
Tenho
a impressão que estou dando uma mãozinha à Morte.
Recapitulando.
Levantei-me
às cinco horas.
Às
seis fui de carro ao consultório do meu filho, sito na Rua Voluntários da
Pátria, Botafogo.
Imediatamente,
tomei um ônibus e fui ao Centro da cidade para uma entrevista com um advogado
que me acena conquistas na Justiça. Pago a ele R$ 2.900,00, sendo R$ 2.000,00
de honorários e R$ 900,00 de custas judiciais, que julgo absurdas.
Às
9h estou no escritório do meu editor. Apanho as minhas poesias para, no lar,
organizar o livro para uma próxima edição.
Essa
operação demora três dias. Tenho que pôr em ordem alfabética uns 500 poemas, e preparar
o sumário.
Vou
a uma LAN-HOUSE, no Catete, ao Banco Itaú e ao Banco do Brasil.
Almoço
num restaurante chinês, superlotado. Rua Santa Luzia. Caminho quase um
quilômetro para chegar ao ponto final da linha de ônibus para a Ilha. Chego ao
apartamento e me sinto no paraíso.
12. Domingo.
A manhã se mostra calma e ensolarada. O céu
azul. Entretanto, está anunciada a chegada ao Rio, no final da tarde, de uma
frente fria, fenômeno meteorológico assaz comum nesta região do sudeste.
Aqui, também, as trovoadas são frequentes.
Começo a ler o famoso livro de BOSSUET
(1627–1704), “ORAISONS FUNÈBRES ET SERMONS”.
Leio, estupefato, que o maior orador da França
corrigia e retocava uma frase 18 vezes!
Empreguei essa estranha palavra (ESTUPEFATO)
por quê eu escrevo em prosa e verso de um jato.
Quando, ocasionalmente, faço uma segunda
leitura, raramente corrijo ou retoco o texto, sempre escrito no momento da
visita da inspiração.
BALZAC, sem dúvida, o melhor e o mais prolífero
romancista francês, confessava que por doze vezes corrigia os seus textos.
Está sempre a martelar dentro do meu cérebro o
sábio conselho de GOETHE:
“O
que se escreve no momento
da
inspiração não deve
ser
alterado depois”.
16. Faz 14 anos que fui operado de
três hérnias no hospital São Vicente de Paulo, sito na Tijuca.
Para
complicar ainda mais os dias ardilosos que põem em risco a minha existência,
uma daquelas hérnias entrou em erupção.
Uma
nova dor se soma às que já sofro na coluna.
Abro
o livro de credenciados da PETROBRAS para identificar clínicas da zona sul a
que pudesse recorrer.
Simpatizei
com a Clínica de Emergências Bambina, na Rua São João Batista, 80.
Após
hora e meia de viagem da Ilha para o Centro, tomo o Metrô na Estação Carioca e
sigo para Botafogo. Então, solicito a um taxista levar-me ao endereço.
Chegando
lá a clínica não existia. O nº 80 era um terreno baldio.
O
motorista informou-me que havia num endereço próximo à Estação Botafogo, uma
clínica desse nome.
Fomos
para lá. A fachada da clínica, cujo nome foi mudado para “Centro Médico” era
imponente, o que me impressionou desde logo.
Ingressei
no recinto. Um sujeito vestido de camisa amarela e short, dormia como uma
pedra. Não havia atendente. Adentrei-me mais, como se penetra num mausoléu.
Alguém
surgiu como um fantasma e esclareceu que o tal centro estava em obras.
A
minha via-crúcis continuava.
Entro
noutro taxi e sigo, para a clínica Santa Lúcia, também em Botafogo, de longa tradição.
Perguntei
à atendente se havia emergência. Respondeu-me que eu teria que ir a um clínico
geral para me internar se houvesse vaga. Do contrário eu deveria
ser
transferido para um hospital.
Me
senti personagem do livro “ O Processo”, de Kafka.
Desisti,
decepcionado.
Entro
num ônibus e volto para o Centro. Outro veículo me traz à ilha.
No
ponto onde desci visualizei uma clínica de radiologia.
Decidi-me
ir lá.
Informei
à atendente que queria uma radiografia da hérnia.
Exigiu-me
uma receita médica, que não tinha.
Chego
ao apartamento muito cansado e decepcionado com os fados do meu destino.
Na
próxima semana devo recorrer ao hospital São Vicente de Paulo que é modelo de
organização administrativa e técnica.
Após
uma hora de descanso, confidencio a esta crônica as minhas atribulações de
hoje.
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