terça-feira, 21 de março de 2017

Março 2011



                                      ANO 2011
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                                       MARÇO


12.            Seria necessária uma pena melhor do que a minha para representar numa breve crônica aspectos que visualizo quando me aventuro a intrometer-me no seio das multidões, que nas artérias desta cidade se entrechocam como formigas.
 Nesta ligeira crônica ouso destacar como é gentil o povo carioca.  Quando ingresso no vagão do Metrô homens e mulheres me acenam para oferecer os seus lugares.  Nunca aceito, por causa do meu curto trajeto e ainda mais para ostentar perfeito estado físico.
 Escuto, com frequência, uma enxurrada da palavra “obrigado”.
 Se alguém recebe uma informação ou um favor, diz, infalivelmente, obrigado.  A outra parte, em resposta, repete a mesma palavra.
As passagens dos ônibus são pagas com cartão magnético ou a dinheiro.
 Neste último caso, o pagante fala ao cobrador: obrigado e este responde: obrigado.
 Há, assim, uma pletora do uso desnecessário desse vocábulo.
 Para quem se interessar em conhecer os costumes e a “alma” do povo carioca (casa de branco na língua Tupi), recomendo a leitura do livro de crônicas do mais famoso cronista desta metrópole, Paulo Barreto, mais conhecido pela alcunha de João do Rio.


 22.            Civilização e qualidade de vida.
 Na manhã nublada de hoje, fui ao Centro da cidade.  Na viagem de ida, voltei o relógio do tempo.  Fecho os olhos e começo a divagar sobre a minha vinda de Aracaju para esta cidade, em janeiro de 1950, quando completava 26 anos de idade.
 Em Sergipe, eu exercia o cargo de Contador de uma companhia de petróleo de nome ITATIG, Petróleo, Asfalto e Mineração.
Encerradas suas atividades de pesquisa, a sonda de perfuração foi então vendida ao Conselho Nacional do Petróleo.
 O diretor da empresa convidou-me para trabalhar na Matriz, sita no Rio de Janeiro.
 O escritório ficava na rua México.  No lado oposto começava a ser construído um alto edifício que seria a futura sede da Embaixada dos Estados Unidos.
 A cidade grande espantava o matuto nordestino.
 Como o salário era diminuto, a minha esposa e os dois filhos permaneciam em Aracaju.
 No dia 2 de janeiro de 1951 assumi o cargo de Contador- geral de um banco carioca.
 A seguir, dei umas pinceladas sobre aquela cidade de dois milhões de habitantes, cuja beleza me embriagava de emoção.
 O bonde era o transporte mais popular.  Havia mais de 2.000 veículos em circulação. Em seguida, vinha o trem elétrico da Central do Brasil. Os ônibus eram poucos.
 As águas da baía da Guanabara eram limpas e nas suas praias não se acumulava lixo.
 Hoje, essas águas, mui especialmente na Ilha do Governador, mostram-se escuras, poluídas, exalando mau cheiro causado pela podridão.  Na Ilha, o lixo vindo da baía se acumula nas praias em grande quantidade.  O mau odor sentimos de longa distância, para gáudio dos urubus.
 Naqueles saudosos anos que não voltam mais, a paz reinava na cidade. Os crimes e assassinatos não preocupavam a população, pois eram raros.
 Não havia camelôs nem traficantes de drogas.
 Os habitantes eram civilizados e o sorriso comum.
 Os anos se passaram.  A população, na luta pelo pão de cada dia, sofrendo de violência de várias naturezas. Estressadas, as pessoas não sorriem mais.  Nos seus rostos vemos as feições da preocupação.
 O trânsito de veículos insuportável, irritante.  Leva-se até uma hora e meia para uma viagem de 28 km.
 No Centro da cidade, como em outros bairros, pululam os indivíduos miseráveis que em pleno dia dormem nas calçadas, indiferentes ao burburinho das ruas.
 A cidade povoada de camelôs, sempre perseguidos pelo “rapa”.
Os motoristas de ônibus, talvez por causa do estresse causado pelos congestionamentos do trânsito, não respeitam os passageiros, como dou exemplo a seguir:
 No Centro, nesta data, entrei num ônibus com destino à Ilha.  No momento em que pagava a passagem, o motorista freou o ônibus com tanta violência que eu, por sorte, caí em cima de um assento vazio, de pernas para o ar.  Um senhor levantou-se e ajudou a erguer-me.
 Se tivesse caído no leito do veículo e batido a cabeça, estaria neste momento admirado se estivesse vendo minh’ alma ou no escuro do abismo do universo.
 Oh, meu doce Rio! A Natureza continua linda, porém péssima a qualidade de vida.
 O povo carioca não merece esse modo de viver.


 25.          Prosseguindo a vocação do maior cronista desta cidade, João do Rio, à medida que escrevo as minhas crônicas, cresce vertiginosamente a admiração e o amor que devoto a esta metrópole -  orgulho da Nação -, da qual se diz ser morada de Deus.
 A cidade me parece de carne e osso.  Mais bela do que a Miss Universo! Bem merece a alcunha de cidade maravilhosa.  Está inclusa na lista das maiores cidades do planeta.  Divide-se em 160 bairros.  A pequena Aracaju em 35. Acontece que aqui existem bairros maiores do que a capital de Sergipe, quer em área, quer em população.  Os paulistanos se ufanam da população de sua cidade, São Paulo, que é atualmente de 11.244.369 habitantes. E daí? Isso nada significa.
 O Rio é, ainda, a mais fantástica cidade do planeta.  Tem 135 lagos e chafarizes.  Os pontos turísticos oficiais somam 2.000!
Um livro completo sobre a cidade e o seu povo teria mais páginas do que a Bíblia.
 Eu, como o João do Rio, em nossas crônicas apenas ofereço ao leitor “Flash-Light” deste paraíso.
 Esquecia-me de citar que residem em muitas ruas e praças da cidade mais de 700 estátuas e bustos de brasileiros ilustres.

 Rio, eu te amo!

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