ANO 2011
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MARÇO
12. Seria necessária uma pena melhor do
que a minha para representar numa breve crônica aspectos que visualizo quando
me aventuro a intrometer-me no seio das multidões, que nas artérias desta
cidade se entrechocam como formigas.
Nesta ligeira crônica ouso destacar como é
gentil o povo carioca. Quando ingresso
no vagão do Metrô homens e mulheres me acenam para oferecer os seus lugares. Nunca aceito, por causa do meu curto trajeto e
ainda mais para ostentar perfeito estado físico.
Escuto, com frequência, uma enxurrada da
palavra “obrigado”.
Se alguém recebe uma informação ou um favor,
diz, infalivelmente, obrigado. A outra
parte, em resposta, repete a mesma palavra.
As passagens dos
ônibus são pagas com cartão magnético ou a dinheiro.
Neste último caso, o pagante fala ao cobrador:
obrigado e este responde: obrigado.
Há, assim, uma pletora do uso desnecessário desse
vocábulo.
Para quem se interessar em conhecer os
costumes e a “alma” do povo carioca (casa de branco na língua Tupi), recomendo
a leitura do livro de crônicas do mais famoso cronista desta metrópole, Paulo
Barreto, mais conhecido pela alcunha de João do Rio.
22. Civilização e qualidade de vida.
Na manhã nublada de hoje, fui ao Centro da
cidade. Na viagem de ida, voltei o
relógio do tempo. Fecho os olhos e
começo a divagar sobre a minha vinda de Aracaju para esta cidade, em janeiro de
1950, quando completava 26 anos de idade.
Em Sergipe, eu exercia o cargo de Contador de
uma companhia de petróleo de nome ITATIG, Petróleo, Asfalto e Mineração.
Encerradas suas
atividades de pesquisa, a sonda de perfuração foi então vendida ao Conselho
Nacional do Petróleo.
O diretor da empresa convidou-me para
trabalhar na Matriz, sita no Rio de Janeiro.
O escritório ficava na rua México. No lado oposto começava a ser construído um alto
edifício que seria a futura sede da Embaixada dos Estados Unidos.
A cidade grande espantava o matuto nordestino.
Como o salário era diminuto, a minha esposa e
os dois filhos permaneciam em Aracaju.
No dia 2 de janeiro de 1951 assumi o cargo de Contador-
geral de um banco carioca.
A seguir, dei umas pinceladas sobre aquela
cidade de dois milhões de habitantes, cuja beleza me embriagava de emoção.
O bonde era o transporte mais popular. Havia mais de 2.000 veículos em circulação. Em
seguida, vinha o trem elétrico da Central do Brasil. Os ônibus eram poucos.
As águas da baía da Guanabara eram limpas e
nas suas praias não se acumulava lixo.
Hoje, essas águas, mui especialmente na Ilha
do Governador, mostram-se escuras, poluídas, exalando mau cheiro causado pela
podridão. Na Ilha, o lixo vindo da baía
se acumula nas praias em grande quantidade.
O mau odor sentimos de longa distância, para gáudio dos urubus.
Naqueles saudosos anos que não voltam mais, a
paz reinava na cidade. Os crimes e assassinatos não preocupavam a população, pois
eram raros.
Não havia camelôs nem traficantes de drogas.
Os habitantes eram civilizados e o sorriso
comum.
Os anos se passaram. A população, na luta pelo pão de cada dia,
sofrendo de violência de várias naturezas. Estressadas, as pessoas não sorriem
mais. Nos seus rostos vemos as feições
da preocupação.
O trânsito de veículos insuportável, irritante. Leva-se até uma hora e meia para uma viagem
de 28 km.
No Centro da cidade, como em outros bairros, pululam
os indivíduos miseráveis que em pleno dia dormem nas calçadas, indiferentes ao
burburinho das ruas.
A cidade povoada de camelôs, sempre
perseguidos pelo “rapa”.
Os motoristas de
ônibus, talvez por causa do estresse causado pelos congestionamentos do
trânsito, não respeitam os passageiros, como dou exemplo a seguir:
No Centro, nesta data, entrei num ônibus com
destino à Ilha. No momento em que pagava
a passagem, o motorista freou o ônibus com tanta violência que eu, por sorte,
caí em cima de um assento vazio, de pernas para o ar. Um senhor levantou-se e ajudou a erguer-me.
Se tivesse caído no leito do veículo e batido
a cabeça, estaria neste momento admirado se estivesse vendo minh’ alma ou no
escuro do abismo do universo.
Oh, meu doce Rio! A Natureza continua linda,
porém péssima a qualidade de vida.
O povo carioca não merece esse modo de viver.
25. Prosseguindo a vocação do maior
cronista desta cidade, João do Rio, à medida que escrevo as minhas crônicas,
cresce vertiginosamente a admiração e o amor que devoto a esta metrópole - orgulho da Nação -, da qual se diz ser morada
de Deus.
A cidade me parece de carne e osso. Mais bela do que a Miss Universo! Bem merece a
alcunha de cidade maravilhosa. Está
inclusa na lista das maiores cidades do planeta. Divide-se em 160 bairros. A pequena Aracaju em 35. Acontece que aqui
existem bairros maiores do que a capital de Sergipe, quer em área, quer em
população. Os paulistanos se ufanam da
população de sua cidade, São Paulo, que é atualmente de 11.244.369 habitantes. E
daí? Isso nada significa.
O Rio é, ainda, a mais fantástica cidade do
planeta. Tem 135 lagos e chafarizes. Os pontos turísticos oficiais somam 2.000!
Um livro completo
sobre a cidade e o seu povo teria mais páginas do que a Bíblia.
Eu, como o João do Rio, em nossas crônicas
apenas ofereço ao leitor “Flash-Light” deste paraíso.
Esquecia-me de citar que residem em muitas
ruas e praças da cidade mais de 700 estátuas e bustos de brasileiros ilustres.
Rio, eu te amo!
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