ANO: 2011
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FEVEREIRO
5.
Agora são seis horas de
uma manhã clara e atípica.
Do janelão do apartamento onde
me abrigo, olho para o céu e me espanto com uma visão inédita que contemplo.
Dezenas, dezenas de minúsculas
nuvens brancas, separadas por curtos espaços, mostram-se arrumadas como se
fosse arte de alguma divindade.
As nuvens, semelhantes a lençóis
alvos como flocos de algodão, dão a impressão que dormem iluminadas com os raios
do Sol nascente.
Pelos espaços vazios entre elas,
vejo no céu manchas azuis que parecem ser pequenos lagos.
De repente, pouco a pouco, as
nuvens começam a movimentar-se lentamente, e a dissipar-se, como se estivessem
acordadas por causa do brilho do Sol, mais intenso.
E ante esse maravilhoso
espetáculo promovido pela Natureza, o poeta ateu começa a especular: Será que
Deus existe?
16.
Nas minhas andanças pelas
ruas desta cidade que já foi maravilhosa, numa imitação ao famoso João do Rio,
vou observando as nuances inusitadas que espicaçam a minha permanente
curiosidade.
Aquelas que mais chamam a minha
atenção vou anotando, visando a inseri-las no meu Diário ou no vale da crônica
que ofereço à posteridade.
Neste dia, às oito horas d’uma
manhã abrasante, tomei um ônibus popular (R$ 2,40 a passagem) que faço questão
de pagar, embora isento, com destino ao Centro.
A viagem pela congestionada
Avenida Brasil modorrenta, vagarosa.
Para percorrer 28 km o veículo,
já idoso que trepidava por causa das irregularidades do asfalto e pela
indiferença do motorista para com a comodidade dos passageiros, chegou ao
destino após 1h20 do gemido do motor.
No trajeto, uma senhora
portadora de excesso de gordura entrou no veículo. Ao tentar passar na estreita catraca, a mulher
viu-se entalada. Nem passava, nem
recuava.
Nisso, um bom cristão, musculoso,
levantou-se do seu assento e, à força, salvou-a daquela afligente situação. Uma
careta indicada que sentia dor.
Tomo o Metrô com destino a Botafogo, onde ia consultar-me com o meu
cardiologista, Dr. Moisés, do Hospital Pró-cardíaco.
O vagão lotado como uma lata de
sardinha.
Bem a minha frente um jovem bem
vestido e de boa aparência abraçava e beijava uma idosa que aparentava 50 anos
de idade!
Pareceu-me que esse sujeito
fosse retardado mental.
17.
Nesta manhã de céu azul,
quente como a fornalha, tomei uma van com destino ao Centro.
Dirigia-me à Lapa, bairro onde
se situa a minha Editora.
A agenda indicava dez horas, o momento do meu encontro com o Editor.
O trânsito corria rápido. Às nove horas desci na Cinelândia, famosa praça
que é o coração desta megalópole.
Resolvi sentar-me num banco para
apreciar o vaivém da fauna humana que por ali transitava.
Num banco próximo, um jovem com
aspecto de mendigo, estava sentado e balançando o corpo para frente e para trás
em movimentos rápidos e ritmados.
O indivíduo era, evidentemente,
maluco. Aliás o Rio parece um hospício a céu aberto.
Mudo o meu curioso olhar para os
transeuntes e me divirto ao examinar cada um.
Ali desfilam moças lindas e
vestidas com apuro.
Desfilavam, também, muitas
mulheres gordas, de meia-idade. Notei
que uma delas, escura como uma caverna, para transportar os seus 140 quilos,
aproximadamente, simulava arrastar-se, vagarosamente.
A maioria passava apressada. Alguns
trotavam, uns poucos corriam.
De repente, surgiu um casal; ambos
brancos como um eslavo, com caras de gringos.
O homem deveria medir dois metros de altura. Nas costas, transportava uma grande mochila,
hábito que agora é moda.
Olho para o relógio. São 9h30.
Levanto-me e marcho para o meu importante
encontro.
19. A estatística é um método que visa a
coletar informações numéricas referentes a fatos sociais, econômicos etc.
Numa visão metafórica, pode-se
dizer que a estatística é filha da matemática e co- irmã da Ciência Contábil.
Desde a juventude, eu tenho sido
um apaixonado pela estatística.
Agrada-me saber as populações
dos estados e de muitas cidades do Brasil. Agrada-me, também, conhecer as populações dos
países e das principais cidades do mundo.
Sou apaixonado pelo Estado do
Rio de Janeiro que é, sem dúvida, o mais bonito deste país, especialmente a sua
famosa capital.
Embora seja o segundo menor
estado do Brasil, é o terceiro em população. Atualmente, são 15.993.583 fluminenses.
A capital, uma vasta cidade.
Apenas a estatística da frota de
veículos nos dá uma ideia da sua importância.
Circulam em suas artérias 2.375.245
veículos, inclusive 208.489 motos.
No estado, os veículos somam 5.066.875
unidades, inclusive 632.514 motos.
Os congestionamentos,
principalmente nas horas de pico, irritam a população.
Não fora o Metrô e a via férrea,
os sofredores habitantes desta cidade andariam a pé.
O remédio será o Metrô, que se
expande vagarosamente.
22. Rua
do Ouvidor – Outrora seja a rua mais famosa da cidade, com as suas lojas de
luxo, francesas. Ponto de reunião de
escritores e poetas. Ali regurgitava a
mais requintada nata da sociedade de então.
O tempo passou...
Na manhã de hoje, os passos
lentos, os olhos perscrutando a histórica artéria e observando a azáfama dos transeuntes,
sempre apressados, um véu de tristeza envolve o meu espírito quando noto o
atual abandono desta rua que já foi objeto de orgulho do povo carioca.
Observo o seu leito pavimentado
com paralelepípedos espaçados entre si, e uns mais desnivelados do que outros,
causando dificuldade de andar e perigos aos passantes, especialmente às
mulheres que usam sapatos altos, arriscando-se a quedas perigosas. Por causa disso, o público prefere andar nas
calçadas, sempre cheias como formigueiro, entrechocando-se.
As calçadas esburacadas e
perigosas, por serem pavimentadas com a maldita pedra portuguesa (em vez de
lajotas), pedra essa que deveria ser banida do Brasil!
Enquanto os “rapas” da
prefeitura perseguem os infelizes camelôs, uma imensidão de agentes dos agiotas
inferniza a rua do Ouvidor e muitas
outras desta bela cidade, oferecendo dinheiro emprestado a taxas extorsivas, à
vista das autoridades que fecham os olhos.
SENHOR PREFEITO: Salve a
Rua do Ouvidor.
24.
De ônibus, deixo a Ilha do
Governador para o Centro da cidade. A
distância é de 28 km. Entretanto, por
causa do trânsito lento, a viagem demorou 1h20.
De logo, fui ao Detran, na rua
da Ajuda apanhar a minha nova e última carteira de identidade.
Em seguida, tomei o Metrô para
ir a Copacabana, a fim de consultar-me com o dr. Isaac Benchimol,
endocrinologista.
Fazia 16 anos de ausência desse
famoso bairro desta cidade, onde morei durante um ano.
A perspectiva de rever
Copacabana acelerava as batidas do meu cansado coração.
O comboio me deixou na estação
Arcoverde, que presumo seja o nome do primeiro Cardeal do Rio de Janeiro. Creio que o nome mais apropriado seria
Copacabana.
Conheci os Metrôs de Nova York,
Paris e Hamburgo. Lá não vi qualquer estação
comparável a essa de Copacabana. Bela,
linda, orgulho dos cariocas, e do Brasil. Creio que está a uns cem metros abaixo do solo.
Ao sair do trem, toma-se uma
longa escada rolante. Em seguida,
caminha-se uns 50 metros e sobe-se em outra ainda mais longa. Ao descer, caminha-se novamente e toma-se a
terceira e última escada rolante.
Para entrar-se na estação usa-se um tapete rolante.
Na frente da estação, uma pedra
enorme serve de monumento.
A próxima artéria é a muito
conhecida Rua Barata Ribeiro. Atravesso-a
para chegar à Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde fica o consultório do
meu médico.
Após dar alguns passos, vejo um
sacolão, no qual entrei por curiosidade.
Fiquei admirado do seu tamanho. Surpreendeu-me a organização das prateleiras. Nota mil!
Para chegar ao meu destino,
passo em ruas conhecidas no meu passado, agora os nomes esquecidos.
E, aos poucos, as lembranças vão
surgindo, e, eu penso no ditado: Recordar é viver.
Às 16h chego à Ilha. Cansado, por haver percorrido uns 60km; tomo
uma ducha quente, e deito-me na acolhedora cama, desejando dormir e sonhar.
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