terça-feira, 21 de março de 2017

Fevereiro 2011



                                  ANO: 2011 
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                                FEVEREIRO


5.              Agora são seis horas de uma manhã clara e atípica.
 Do janelão do apartamento onde me abrigo, olho para o céu e me espanto com uma visão inédita que contemplo.
 Dezenas, dezenas de minúsculas nuvens brancas, separadas por curtos espaços, mostram-se arrumadas como se fosse arte de alguma divindade.
 As nuvens, semelhantes a lençóis alvos como flocos de algodão, dão a impressão que dormem iluminadas com os raios do Sol nascente.
 Pelos espaços vazios entre elas, vejo no céu manchas azuis que parecem ser pequenos lagos.
 De repente, pouco a pouco, as nuvens começam a movimentar-se lentamente, e a dissipar-se, como se estivessem acordadas por causa do brilho do Sol, mais intenso.
 E ante esse maravilhoso espetáculo promovido pela Natureza, o poeta ateu começa a especular: Será que Deus existe?


16.           Nas minhas andanças pelas ruas desta cidade que já foi maravilhosa, numa imitação ao famoso João do Rio, vou observando as nuances inusitadas que espicaçam a minha permanente curiosidade.
 Aquelas que mais chamam a minha atenção vou anotando, visando a inseri-las no meu Diário ou no vale da crônica que ofereço à posteridade.
 Neste dia, às oito horas d’uma manhã abrasante, tomei um ônibus popular (R$ 2,40 a passagem) que faço questão de pagar, embora isento, com destino ao Centro.
 A viagem pela congestionada Avenida Brasil modorrenta, vagarosa.



 Para percorrer 28 km o veículo, já idoso que trepidava por causa das irregularidades do asfalto e pela indiferença do motorista para com a comodidade dos passageiros, chegou ao destino após 1h20 do gemido do motor.
 No trajeto, uma senhora portadora de excesso de gordura entrou no veículo.  Ao tentar passar na estreita catraca, a mulher viu-se entalada.  Nem passava, nem recuava.
 Nisso, um bom cristão, musculoso, levantou-se do seu assento e, à força, salvou-a daquela afligente situação. Uma careta indicada que sentia dor.
Tomo o Metrô com destino a Botafogo, onde ia consultar-me com o meu cardiologista, Dr. Moisés, do Hospital Pró-cardíaco.
 O vagão lotado como uma lata de sardinha.
 Bem a minha frente um jovem bem vestido e de boa aparência abraçava e beijava uma idosa que aparentava 50 anos de idade!
 Pareceu-me que esse sujeito fosse retardado mental.


17.           Nesta manhã de céu azul, quente como a fornalha, tomei uma van com destino ao Centro.
 Dirigia-me à Lapa, bairro onde se situa a minha Editora.
A agenda indicava dez horas, o momento do meu encontro com o Editor.
 O trânsito corria rápido.  Às nove horas desci na Cinelândia, famosa praça que é o coração desta megalópole.
 Resolvi sentar-me num banco para apreciar o vaivém da fauna humana que por ali transitava.
 Num banco próximo, um jovem com aspecto de mendigo, estava sentado e balançando o corpo para frente e para trás em movimentos rápidos e ritmados.
 O indivíduo era, evidentemente, maluco. Aliás o Rio parece um hospício a céu aberto.



 Mudo o meu curioso olhar para os transeuntes e me divirto ao examinar cada um.
 Ali desfilam moças lindas e vestidas com apuro.
 Desfilavam, também, muitas mulheres gordas, de meia-idade.  Notei que uma delas, escura como uma caverna, para transportar os seus 140 quilos, aproximadamente, simulava arrastar-se, vagarosamente.
A maioria passava apressada.  Alguns trotavam, uns poucos corriam.
 De repente, surgiu um casal; ambos brancos como um eslavo, com caras de gringos.  O homem deveria medir dois metros de altura.  Nas costas, transportava uma grande mochila, hábito que agora é moda.
 Olho para o relógio. São 9h30.
 Levanto-me e marcho para o meu importante encontro.



19.         A estatística é um método que visa a coletar informações numéricas referentes a fatos sociais, econômicos etc.
 Numa visão metafórica, pode-se dizer que a estatística é filha da matemática e co- irmã da Ciência Contábil.
 Desde a juventude, eu tenho sido um apaixonado pela estatística.
 Agrada-me saber as populações dos estados e de muitas cidades do Brasil.  Agrada-me, também, conhecer as populações dos países e das principais cidades do mundo.
 Sou apaixonado pelo Estado do Rio de Janeiro que é, sem dúvida, o mais bonito deste país, especialmente a sua famosa capital.
 Embora seja o segundo menor estado do Brasil, é o terceiro em população.  Atualmente, são 15.993.583 fluminenses.
 A capital, uma vasta cidade.


 Apenas a estatística da frota de veículos nos dá uma ideia da sua importância.
 Circulam em suas artérias 2.375.245 veículos, inclusive 208.489 motos.
 No estado, os veículos somam 5.066.875 unidades, inclusive 632.514 motos.
 Os congestionamentos, principalmente nas horas de pico, irritam a população.
 Não fora o Metrô e a via férrea, os sofredores habitantes desta cidade andariam a pé.
 O remédio será o Metrô, que se expande vagarosamente.


22.           Rua do Ouvidor – Outrora seja a rua mais famosa da cidade, com as suas lojas de luxo, francesas.  Ponto de reunião de escritores e poetas.  Ali regurgitava a mais requintada nata da sociedade de então.
 O tempo passou...
 Na manhã de hoje, os passos lentos, os olhos perscrutando a histórica artéria e observando a azáfama dos transeuntes, sempre apressados, um véu de tristeza envolve o meu espírito quando noto o atual abandono desta rua que já foi objeto de orgulho do povo carioca.
 Observo o seu leito pavimentado com paralelepípedos espaçados entre si, e uns mais desnivelados do que outros, causando dificuldade de andar e perigos aos passantes, especialmente às mulheres que usam sapatos altos, arriscando-se a quedas perigosas.  Por causa disso, o público prefere andar nas calçadas, sempre cheias como formigueiro, entrechocando-se.
 As calçadas esburacadas e perigosas, por serem pavimentadas com a maldita pedra portuguesa (em vez de lajotas), pedra essa que deveria ser banida do Brasil!
 Enquanto os “rapas” da prefeitura perseguem os infelizes camelôs, uma imensidão de agentes dos agiotas


inferniza a rua do Ouvidor e muitas outras desta bela cidade, oferecendo dinheiro emprestado a taxas extorsivas, à vista das autoridades que fecham os olhos.

  SENHOR PREFEITO: Salve a
        Rua do Ouvidor.



24.            De ônibus, deixo a Ilha do Governador para o Centro da cidade.  A distância é de 28 km.  Entretanto, por causa do trânsito lento, a viagem demorou 1h20.
 De logo, fui ao Detran, na rua da Ajuda apanhar a minha nova e última carteira de identidade.
 Em seguida, tomei o Metrô para ir a Copacabana, a fim de consultar-me com o dr. Isaac Benchimol, endocrinologista.
 Fazia 16 anos de ausência desse famoso bairro desta cidade, onde morei durante um ano.
 A perspectiva de rever Copacabana acelerava as batidas do meu cansado coração.
 O comboio me deixou na estação Arcoverde, que presumo seja o nome do primeiro Cardeal do Rio de Janeiro.  Creio que o nome mais apropriado seria Copacabana.
 Conheci os Metrôs de Nova York, Paris e Hamburgo.  Lá não vi qualquer estação comparável a essa de Copacabana.  Bela, linda, orgulho dos cariocas, e do Brasil.  Creio que está a uns cem metros abaixo do solo.
 Ao sair do trem, toma-se uma longa escada rolante.  Em seguida, caminha-se uns 50 metros e sobe-se em outra ainda mais longa.  Ao descer, caminha-se novamente e toma-se a terceira e última escada rolante.
Para entrar-se na estação usa-se um tapete rolante.
 Na frente da estação, uma pedra enorme serve de monumento.



 A próxima artéria é a muito conhecida Rua Barata Ribeiro.  Atravesso-a para chegar à Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde fica o consultório do meu médico.
 Após dar alguns passos, vejo um sacolão, no qual entrei por curiosidade.
 Fiquei admirado do seu tamanho.  Surpreendeu-me a organização das prateleiras.  Nota mil!
 Para chegar ao meu destino, passo em ruas conhecidas no meu passado, agora os nomes esquecidos.
 E, aos poucos, as lembranças vão surgindo, e, eu penso no ditado: Recordar é viver.
 Às 16h chego à Ilha.  Cansado, por haver percorrido uns 60km; tomo uma ducha quente, e deito-me na acolhedora cama, desejando dormir e sonhar.

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