O
EPITÁFIO
Embora pareça mórbido, considero o epitáfio
como um gênero literário triste, porém emocionante.
Comecei a interessar-me sobre esse assunto quando
morava na cidade do Rio de Janeiro. Num certo dia, li num jornal uma reportagem
sobre o Cemitério dos Ingleses, sito no topo de um morro carioca.
Decidi-me visitá-lo.
O lugar era deserto, e o cemitério parecia
abandonado, pela ausência de novos clientes.
Começo a sentir calafrios de medo, mas não
desisti do meu intento.
A grosso modo, estimei que mais de 200 ingleses
estavam ali enterrados e esquecidos.
Começo a proceder a leitura dos epitáfios,
escritos no idioma de Shakespeare. Alguns, os li mais de uma vez. Demorei-me
nessa tarefa algumas horas.
No decorrer dessa minha aventura fúnebre, eu também
tinha aulas de inglês.
Esqueci o tempo.
De repente, notei que as sombras da noite
começavam a cair do céu.
Com receio da vinda de fantasmas, fugi dali em
grande velocidade.
Na minha futura sepultura, o passante
encontrará três epitáfios.
Transcrevo o de número um.
EPITÁFIO
Contemplai, queridos
irmãos,
esta triste sepultura.
iluminada pelo Sol e
pelas estrelas.
Aqui jazem os restos
mortais
de um sublime poeta
brasileiro.
Ele compôs versos
brilhantes,
porém morreu
desconhecido dos
homens e esquecido
pelos deuses.
Não perturbeis o seu
sono eterno
com os vossos passos,
contudo
permitais que o Corvo
possa
pousar sobre o frio
mármore,
e regá-lo com seu
pranto.
Edson Valadares
Ilhéus, junho de 1999.
Nota:
A minha nora, arquiteta
carioca, providenciará a colocação da escultura de um corvo sobre a cova.
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