quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O EPITÁFIO



O EPITÁFIO


Embora pareça mórbido, considero o epitáfio como um gênero literário triste, porém emocionante.
Comecei a interessar-me sobre esse assunto quando morava na cidade do Rio de Janeiro. Num certo dia, li num jornal uma reportagem sobre o Cemitério dos Ingleses, sito no topo de um morro carioca.
Decidi-me visitá-lo.
O lugar era deserto, e o cemitério parecia abandonado, pela ausência de novos clientes.
Começo a sentir calafrios de medo, mas não desisti do meu intento.
A grosso modo, estimei que mais de 200 ingleses estavam ali enterrados e esquecidos.
Começo a proceder a leitura dos epitáfios, escritos no idioma de Shakespeare. Alguns, os li mais de uma vez. Demorei-me nessa tarefa algumas horas.
No decorrer dessa minha aventura fúnebre, eu também tinha aulas de inglês.
Esqueci o tempo.
De repente, notei que as sombras da noite começavam a cair do céu.
Com receio da vinda de fantasmas, fugi dali em grande velocidade.
Na minha futura sepultura, o passante encontrará três epitáfios.
Transcrevo o de número um.

EPITÁFIO


Contemplai, queridos irmãos,
esta triste sepultura.
iluminada pelo Sol e pelas estrelas.
Aqui jazem os restos mortais
de um sublime poeta brasileiro.
Ele compôs versos brilhantes,
porém morreu desconhecido dos
homens e esquecido pelos deuses.
Não perturbeis o seu sono eterno
com os vossos passos, contudo
permitais que o Corvo possa
pousar sobre o frio mármore,
e regá-lo com seu pranto.


Edson Valadares
Ilhéus, junho de 1999.



Nota:
A minha nora, arquiteta carioca, providenciará a colocação da escultura de um corvo sobre a cova.




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