Aracaju,
6-11-2015.
Caros
leitores:
O acesso a este Blog recém-nascido vem
crescendo como a enchente da maré.
A minha responsabilidade em abastecê-lo de boa
literatura cresce também.
O meu livro de poesia, intitulado “VERSOS no
ESPELHO” (700 páginas), nasceu no ano de 1995. Acaba de entrar na idade adulta.
Há dois tipos de poeta, aos quais chamo de
poeta cerebral e de poeta por inspiração.
O primeiro, verseja como se escrevesse prosa. O
segundo, verseja quando bafejado pela sua inspiração, a qual chamamos de Musa.
O poeta alemão Goethe, sentenciava: “Aquilo que
se escreve no momento da inspiração, não se altera depois.”
Esse conselho eu sigo rigorosamente, mesmo
porquê não me considero o autor dos versos, os quais vão nascendo à minha revelia,
a qualquer momento do dia ou da noite.
Às vezes, sonho com o título e o texto de um
poema. Acordo. Apanho caneta e papel. Os versos começam a surgir na velocidade
da caneta.
Somente tenho noção do que escrevi quando faço
a leitura.
O meu poema mais extenso tem 62 versos. Foi
redigido sem interrupção, em poucos minutos, e sem alteração.
Certa vez, na Avenida Rio Branco, na cidade do
Rio de Janeiro, onde eu residia, aguardava o sinal verde para atravessá-la.
Nesses poucos minutos a minha Musa ditou-me um curto poema, o qual coloquei no
papel logo que cheguei ao meu apartamento.
Apenas uma vez joguei no lixo um poema meu,
porque um amigo não gostou. Eu deveria tê-lo melhorado e salvo esse poema.
Perdi-o como se tivesse morrido um filho meu.
Na minha infância, vivida na fazenda do meu
avô, no sertão do estado de Sergipe, fui presenteado com um cachorrinho preto.
A sua história eu conto no poema que transcrevo.
O MEU CÃO FIEL
Nesta noite tive um
sonho que me trouxe
uma lembrança da
minha infância vivida
numa fazenda perdida
nos confins do sertão
nordestino... O meu avô
presenteou-me com um
cachorrinho preto que
acabara de nascer. Ele
mostrava na testa um
sinal semelhante a
uma estrelinha branca.
Eu cuidava dele como a
mãe zelosa cuida do seu
filhinho. Rapidamente
cresceu e tornou-se um
cão
enorme, brioso e
valente!
Era o meu único amigo.
Nem o meu avô podia
aproximar-se de mim,
pois seria atacado pelo
cão ciumento.
A nossa fazenda ficava
separada da fazenda
vizinha
por uma cerca de arame
farpado.
Às vezes, o meu cão
fiel
desaparecia durante
longo tempo.
A razão da sua ausência
foi esclarecida, mas
somente
a Natureza poderia
explicar.
O meu amigo pulava a
cerca
para atacar e comer
cabritos do
nosso vizinho, inimigo
do meu
avô por questões de
cercas
divisórias. Jamais
atacou
os cabritos da nossa
fazenda.
O vizinho queixou-se ao
delegado,
que intimou o meu avô a
matar o meu cão fiel.
A intimação foi
rejeitada.
O delegado malvado
laçou-o,
e na beira de uma
estrada
o matou a tiros de
revólver.
Durante um mês eu chorava
e procurava o meu cão
fiel.
Para me consolar, o meu
avô disse-me que ele
havia
fugido. Recebi um outro
cãozinho,
mas, decorrido um ano
eu ainda
sentia saudade do meu
cão preto.
Então, num certo dia, o
meu avô
relatou-me a tragédia
do
assassinato praticado
pelo delegado.
Embora o tempo passado,
a
notícia me fez sofrer e
dos
meus olhos nasceu uma
cascata de lágrimas.
Senti forte desejo de
vingança...
Mas eu tinha apenas
seis anos!
Aracaju, 27-6-2015.
Edson Valadares
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