Aracaju, 8 de
setembro de 2017.
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ A.
NASCIMENTO, insigne
presidente da ASL.
Na última sessão
desta Academia muito se falou a respeito da segunda guerra mundial e a sua
repercussão em Sergipe.
Eu sou testemunha
ocular de alguns acontecimentos.
Assisti o discurso pronunciado pelo Governador,
general A. Maynard, noticiando o afundamento do submarino alemão que pôs a
pique navios nossos.
Assisti o ataque da população à residência da
família Mandarino.
A rua do casarão dos Mandarinos estava
coalhada de livros rasgados pela gentalha, não reprimida pelas autoridades.
Apanhei um dos livros deteriorados e notei que
estava escrito no idioma italiano.
Os assaltantes pareciam loucos, incitados
pelos noticiários das rádios e dos jornais.
A destruição da biblioteca em questão, foi um insulto
à cultura.
Havia a suspeita de que o dono do casarão
seria espião italiano, portanto inimigo da pátria.
Mais tarde,
serenados os ânimos, nada foi provado contra os Mandarinos.
Num outro dia, não sei por qual motivo, eu
estava perto da porta de entrada do palácio que hoje é museu.
À frente de um grupo de seguidores, o general
afastou-se e veio me cumprimentar com um aperto de mão. Provavelmente ele tinha conhecimento de que eu
era filho de Maria Valadares, amiga de sua esposa.
Nós morávamos na rua Pacatuba, nos fundos da pensão
de...
O seu atelier de corte e costura, bem como
escola dessa arte, era frequentado pelas mulheres da alta sociedade aracajuana.
Ela tinha apenas o curso primário, porém era
muito inteligente e corajosa.
Sozinha, criou e educou nove filhos.
Aos 42 anos morreu no Hospital de Cirurgia,
vítima de leucemia. Os filhos choravam e
eu excomungava Deus.
Foi ela quem montou
o primeiro Salão de Beleza (nome da época) em Aracaju.
Antes do início da guerra, ela embarcou num
navio do Lloyd e viajou para a cidade do Rio de Janeiro, com a intenção de, na
firma Niaze, fazer curso e comprar os equipamentos necessários à montagem do
salão.
A Niaze confiou
nela e vendeu os equipamentos, sem nenhuma garantia.
No mês de dezembro de 1945, eu e uns 50
colegas, alunos da Escola de Comércio Conselheiro Orlando, recebíamos diploma
de Contador.
Em janeiro de 1950 embarquei num avião da
Varig com destino à cidade do Rio de Janeiro, onde vivi uma saga de 50 anos.
A fim de morar com duas filhas, regressei ao
berço e aqui aguardar a sentença de morte declarada pelo Destino.
Respeitosamente,
Edson Valadares.
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