______UM SERTANEJO NO PANAMÁ___________
Eu
havia terminado meus trabalhos de auditoria em Nova York, numa segunda visita à
capital do mundo, e já arrumava a mala para voltar ao Brasil, ao meu lar, à
minha saudosa cama, mais confortável, para mim, do que as camas dos mais
luxuosos hotéis.
A minha alegria foi
interrompida. Chegava um telegrama da Matriz instruindo-me para viajar para o
Panamá, com a missão de auditar a filial localizada na capital.
Embora fosse da minha
nata curiosidade conhecer outros países, os seus povos, as diferentes culturas,
as cidades, etc., um véu de tristeza cobriu o meu rosto.
De súbito, mudei de opinião
ao recordar que iria conhecer o famoso canal do Panamá. Um novo sentimento,
agora de alegria, me conduziu ao aeroporto Presidente Kennedy.
Dirigi-me ao balcão da
companhia aérea recomendada para comprar a passagem. Ao invés de formulário
como se usa no Brasil, a funcionária loira e bela, vestida numa farda azul como
safira, entregou-me um simples cartão, sem meu nome sequer.
Não compreendi bem o
seu gesto e perguntei pela passagem. Ela riu na minha cara de sertanejo tabaréu
e, com o dedo indicador da mão direita mandou-me na direção do avião americano
de partida para o Panamá.
Eu voltei a pensar: no
Brasil até a passagem de ônibus interestadual, é complicada!
O voo iniciou-se no
horário estabelecido.
Desci no moderno
aeroporto da cidade do Panamá. As sombras da noite, semelhantes a mortalhas,
cobriam o pequeno país da América Central.
O policial de plantão
num “guichet” perguntou-me apenas meu nome e se tinha hotel reservado.
O dia seguinte era
domingo, e eu o aproveitei para identificar-me com a metrópole e seu povo.
Aluguei um taxi. A
cidade parecia vazia. Transitei por avenidas principais, ruas e praças
ajardinadas. O taxista me convidou a conhecer um edifício histórico, onde
Bolivar reuniu-se com outros revolucionários que libertavam do jugo espanhol os
países da Alemanha Central.
Alegrou-me a visão de
enormes e modernos edifícios, sedes de bancos estrangeiros.
O panamenho é um povo
educado. O taxista conduzia-me, de boa vontade, aos locais mais conhecidos da
grande cidade.
Almoçamos no hotel de quatro
estrelas onde eu estava hospedado. À tarde voltamos a percorrer outros
logradouros.
Quase noite, eu já
temia a tarifa a pagar e voltei ao hotel. A conta foi módica, bem mais barata
do que em Nova York.
Após o jantar, eu
assistia na TV uma reportagem sobre o canal do Panamá, quando fui surpreendido
por um enxame de guapos militares, de diversas patentes, do exército
norte-americano, que “ocupavam” o hotel.
Surpreendi-me ao constatar que soldados e
oficiais hospedavam-se no mesmo hotel, evidenciando a mentalidade democrática
desse povo do norte.
Tomaram os elevadores e
sumiram rapidamente.
Decorridos uns 60
minutos, os elevadores abriram-se e deles saiam conversando, rindo ou
gargalhando, aqueles militares, agora em roupas civis.
Alguns dirigiam-se ao restaurante; outros
foram ao luxuoso cassino do hotel tentar a sorte no jogo.
Eu decidi conhecer o
cassino. O porteiro exigiu-me o passaporte. Mais tarde, eu soube que ao
panamenho é vedado o ingresso nos cassinos evidentemente destinados a “depenar”
gringos e turistas.
Antes de prosseguir
neste relato, devo dizer que ao andar pelas ruas tinha a impressão de me achar
numa cidade do nordeste do Brasil. Os transeuntes, em sua maioria, eram de
baixa estatura e mulatos. Entretanto, no escritório da filial eu conheci uma
das mais lindas moças panamenhas, de causar inveja à própria Afrodite.
Numa noite, deparei-me
com enorme cartaz colorido anunciando a realização de um “show” por parte de um
grupo da República Dominicana. O local era um café-teatro próximo ao meu hotel.
Paguei o ingresso e
ocupei uma mesa vazia.
O espetáculo musical
iniciava-se.
A música desconhecida e
os movimentos das ágeis e bonitas dançarinas, embriagava-me de emoção.
Pedi ao “mozo” uma
bebida alcoólica exótica. Era forte como a nossa cachaça, e eu bebericava com
sofreguidão.
No intervalo, duas daquelas
dançarinas sentaram-se à minha mesa sem pedir licença. Confesso que até fiquei
contente com as súbitas companhias que exalavam perfumes inebriantes.
Uma delas, falando espanhol,
naturalmente, perguntou-me se eu pagaria um “gole”. Bebia o misterioso líquido
com satisfação e rapidez. Engoliu mais alguns cálices e voltou ao palco para a
sua furiosa dança.
Eu me sentia como se se
estivesse num país de sonhos.
No segundo intervalo, a
dançarina reocupou o seu lugar e me pediu permissão para beber mais um cálice.
Quem negaria? Era uma mulher de 30 anos, talvez, muito bonita. A voz de veludo.
Deu-me na cabeça de
perguntar o nome do líquido que causava tanta alegria àquela Vênus. Não
recordo. A bela moça retornou ao palco. O relógio indicava a meia-noite. O doce
sono começava a fechar-me as pálpebras.
No cardápio constatei
que cada cálice daquela bebida me custava onze dólares. Chamei o “mozo”
(garçom) e pedi a conta. Quase cem dólares. A dança continuava ao som de
tambores excitantes. Corri para o hotel lamentando minha infantilidade. A
diária daquele dia estava quase esgotada.
Deitei-me me
censurando, mas ainda estava inebriado com o perfume da excêntrica bailarina,
cujo rosto continua vivo na minha mente.
Num outro dia eu me
achava na portaria do hotel, sem programa. Nisso, o motorista a que me referi,
apanhou um passageiro e me convidou a pegar a “carona”. Após haver percorrido
um longo trajeto, o passageiro desceu do táxi. Voltamos para o hotel e o amável
taxista recusou minha gorjeta.
Os meus trabalhos de
auditoria realizavam-se com rapidez. As operações eram poucas e os registros
contábeis bem praticados.
Uma semana depois, o
Gerente me conduziu a uma sub-filial existente na famosa cidade de Colón, terra
de piratas ao tempo da colonização.
A cidade me pareceu uma
extensa favela. A maioria dos seus habitantes da raça negra, descendentes dos
africanos contratados quando da construção do canal. Perigosa também.
Após dois dias de
verificação dos documentos, conclui que precisaria de uns dois meses para pôr
em ordem aquele pandemônio contábil.
Alertei o Gerente para
a necessidade de serem iniciados profundos trabalhos de revisão nos livros
contábeis visando ao saneamento e regularização das pendências contábeis.
O calor era
insuportável e eu decidi escapar dali.
Entrei num veículo
semelhante às antigas lotações que circularam no Rio de Janeiro e regressei à
capital.
Estudei, o mais que
pude, as condições de vida do panamenho. Salvo engano, posso dizer que o país é
pobre, porém o seu povo não é miserável. Não vi pessoas pedindo esmolas.
Guardo recordação do
mamão do Panamá, sem dúvida o mais doce mamão do mundo.
Devo acrescentar que
num sábado de sol contratei um táxi e fui conhecer e dizer adeus ao famoso
Canal do Panamá, à época administrado por TIO SAM.
O canal, visto de
perto, dava a impressão de ser uma “estrada líquida”. Dezenas de navios de muitos tamanhos e tipos estavam imobilizados,
em fila indiana, aguardando o momento de prosseguir viagem.
Alguns dados sobre o
país e o canal:
A sua extensão é de 82
km; a largura mínima de 91,5 m; 26 m de profundidade e três eclusas duplas. A
travessia demora cerca de nove horas.
O canal foi inaugurado
em 1914, para ligação dos oceanos Atlântico e Pacífico.
Área do Panamá: 75.517 km²
População: 2,9 milhões, dos quais cerca de
500.000 residem na capital.
Analfabetos: 9,2%.
Renda per-capita: 3.000 US$.
Ilhas: 1.023 no Atlântico e 1.518 no Pacífico.
Concluídos meus
trabalhos de auditoria na filial do Panamá, retomei a Nova York, e um avião da
Varig me trouxe de regresso à minha pátria, o Brasil, sem dúvida o mais
fantástico país da Terra.
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