quarta-feira, 22 de junho de 2016

UM SERTANEJO NA ARGENTINA




_______UM SERTANEJO NA ARGENTINA_________



Durante a ditadura dos Generais na Argentina, ingressei numa excursão turística ao país de Gardel.
Do Rio de Janeiro viajamos para Montevidéu. O guia nos levou para conhecer um monumento famoso e um cassino.
A capital do Uruguai me decepcionou. Feia, a maioria dos edifícios velhos e sujos. A nossa permanência na cidade foi de 24 horas.
Então, o ônibus nos conduziu para a famosa cidade “Punta del Leste”.
Não atinei sobre a razão dessa fama, talvez pelo cassino. A praia, de águas geladas e sem margens.
Os únicos banhistas eram leões marinhos. No mesmo dia, viajamos para uma outra pequena cidade, onde tomamos um barco para atravessarmos o Rio da Prata.
Afinal, chegamos a ambicionada Buenos Aires e nos hospedamos num hotel de três estrelas, limpo e confortável.
Eu e minha acompanhante nos desligamos do grupo para aventurarmo-nos pela grande cidade.
Era dia. Visitamos um belo cemitério equivalente ao nosso São João Batista, do Rio de Janeiro. O seu nome, se não me engano, era “La Recoleta”!
Aproximei-me de um robusto taxista e falei em português: Senhor, leve-nos para o zoológico.
Para que ele compreendesse, repeti a palavra várias vezes.
Foi uma grande cobra o que de mais interessante apareceu.
Retornamos ao hotel. Após o jantar, decidimos conhecer a cidade.
Tomamos um táxi e percorremos ruas e avenidas por várias horas. O taxista serviu de guia, porém não compreendíamos quase tudo que ele falava.
Naquela ocasião, circulavam no país duas moedas. Peso velho e peso novo. Eu não sabia.
O motorista informou o preço da aventura. Paguei com peso novo.
Ele deu-me o troco com peso velho.
Na manhã seguinte, tomamos gostosa refeição. Ao pagar a conta com o troco que havia recebido do desonesto motorista, a caixa exclamou: Senhor, são pesos velhos que não valem nada.
Debitei o prejuízo à minha ignorância.
Após certa demora em Buenos Aires, viajamos para Bariloche, o nosso destino final.
Viajamos de ônibus uns 2.000 quilômetros, pela Patagônia.
Muitas vezes fomos interceptados por militares, que de armas em punho, apontando para os turistas brasileiros, vasculhavam o veículo à procura de possíveis inimigos do regime.
Era meia-noite. A maioria dos passageiros dormia. Então, acendeu-se um holofote e o motorista foi obrigado a parar o ônibus.
Temíamos que fossem bandidos. Um oficial e soldados armados, entraram no ônibus, a procura de revolucionários.
Pediam cigarros. Levaram todo estoque, e outros objetos.
Para o nosso alivio, o tenente autorizou a retomada da viagem. Afinal, chegamos à famosa Bariloche. A pequena cidade, a paisagem e as montanhas eram de beleza indescritível.
O passeio mais emocionante foi a subida de 2.000 metros ao topo da montanha onde se praticava esqui.
O guia nos informou:
Aqui, uma distraída turista brasileira escorregou e projetou-se ao solo.
À noite fazia frio. Sem roupa quente, ficávamos dentro do hotel.
Visitamos numa ilha, a floresta onde foi filmado o Bambi.
Após esse emocionante passeio a “Brasiloche”, como dizem os argentinos, retornamos a Buenos Aires. Vi muitas trincheiras na cidade. Soldados, com dedos no gatilho de metralhadoras, apontavam para nós e para a população.
Regressamos ao Brasil, nossa querida pátria. Ao chegarmos ao Rio de Janeiro, nos orgulhamos do nosso país. Contudo, apesar dos perigos que enfrentamos nessa viagem de aventuras, guardo na memória as melhores recordações daquela viagem à Argentina.                    
Retornei a Buenos Aires mais duas vezes. A primeira e a segunda vez, falei  “portunhol”, um idioma que não agrada aos argentinos.
Envergonhado, estudei, no Rio, por três anos, o idioma castelhano, de Castilha, la vieja.
Voltei a Buenos Aires. Hospedei-me, nesta oportunidade, no “Hotel Sheraton, cinco estrelas. Diária: Trinta dólares.
Com o intuito de causar admiração aos argentinos, conversava com muitos deles na língua de Cervantes.
Os meus interlocutores se admiravam e diziam: Brasileiro falando castelhano!
Guardo boas recordações da Argentina e do seu povo. Lamento que o avanço do tempo não me permita voltar.


      

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caros leitores deste blog:

  Aracaju, 15 de setembro de 2020.      Caros leitores deste blog:      Com o apoio de vocês, este meu blog recebe acessos de qu...