_______UM
SERTANEJO NA ARGENTINA_________
Durante
a ditadura dos Generais na Argentina, ingressei numa excursão turística ao país
de Gardel.
Do
Rio de Janeiro viajamos para Montevidéu. O guia nos levou para conhecer um
monumento famoso e um cassino.
A
capital do Uruguai me decepcionou. Feia, a maioria dos edifícios velhos e
sujos. A nossa permanência na cidade foi de 24 horas.
Então,
o ônibus nos conduziu para a famosa cidade “Punta del Leste”.
Não
atinei sobre a razão dessa fama, talvez pelo cassino. A praia, de águas geladas
e sem margens.
Os
únicos banhistas eram leões marinhos. No mesmo dia, viajamos para uma outra
pequena cidade, onde tomamos um barco para atravessarmos o Rio da Prata.
Afinal,
chegamos a ambicionada Buenos Aires e nos hospedamos num hotel de três
estrelas, limpo e confortável.
Eu
e minha acompanhante nos desligamos do grupo para aventurarmo-nos pela grande
cidade.
Era
dia. Visitamos um belo cemitério equivalente ao nosso São João Batista, do Rio
de Janeiro. O seu nome, se não me engano, era “La Recoleta”!
Aproximei-me
de um robusto taxista e falei em português: Senhor, leve-nos para o zoológico.
Para
que ele compreendesse, repeti a palavra várias vezes.
Foi
uma grande cobra o que de mais interessante apareceu.
Retornamos
ao hotel. Após o jantar, decidimos conhecer a cidade.
Tomamos
um táxi e percorremos ruas e avenidas por várias horas. O taxista serviu de
guia, porém não compreendíamos quase tudo que ele falava.
Naquela
ocasião, circulavam no país duas moedas. Peso velho e peso novo. Eu não sabia.
O
motorista informou o preço da aventura. Paguei com peso novo.
Ele
deu-me o troco com peso velho.
Na
manhã seguinte, tomamos gostosa refeição. Ao pagar a conta com o troco que
havia recebido do desonesto motorista, a caixa exclamou: Senhor, são pesos
velhos que não valem nada.
Debitei
o prejuízo à minha ignorância.
Após
certa demora em Buenos Aires, viajamos para Bariloche, o nosso destino final.
Viajamos
de ônibus uns 2.000 quilômetros, pela Patagônia.
Muitas
vezes fomos interceptados por militares, que de armas em punho, apontando para
os turistas brasileiros, vasculhavam o veículo à procura de possíveis inimigos
do regime.
Era
meia-noite. A maioria dos passageiros dormia. Então, acendeu-se um holofote e o
motorista foi obrigado a parar o ônibus.
Temíamos
que fossem bandidos. Um oficial e soldados armados, entraram no ônibus, a
procura de revolucionários.
Pediam
cigarros. Levaram todo estoque, e outros objetos.
Para
o nosso alivio, o tenente autorizou a retomada da viagem. Afinal, chegamos à
famosa Bariloche. A pequena cidade, a paisagem e as montanhas eram de beleza
indescritível.
O
passeio mais emocionante foi a subida de 2.000 metros ao topo da montanha onde
se praticava esqui.
O
guia nos informou:
Aqui,
uma distraída turista brasileira escorregou e projetou-se ao solo.
À
noite fazia frio. Sem roupa quente, ficávamos dentro do hotel.
Visitamos
numa ilha, a floresta onde foi filmado o Bambi.
Após
esse emocionante passeio a “Brasiloche”, como dizem os argentinos, retornamos a
Buenos Aires. Vi muitas trincheiras na cidade. Soldados, com dedos no gatilho
de metralhadoras, apontavam para nós e para a população.
Regressamos
ao Brasil, nossa querida pátria. Ao chegarmos ao Rio de Janeiro, nos orgulhamos
do nosso país. Contudo, apesar dos perigos que enfrentamos nessa viagem de
aventuras, guardo na memória as melhores recordações daquela viagem à
Argentina.
Retornei
a Buenos Aires mais duas vezes. A primeira e a segunda vez, falei “portunhol”, um idioma que não agrada aos
argentinos.
Envergonhado,
estudei, no Rio, por três anos, o idioma castelhano, de Castilha, la vieja.
Voltei
a Buenos Aires. Hospedei-me, nesta oportunidade, no “Hotel Sheraton, cinco
estrelas. Diária: Trinta dólares.
Com
o intuito de causar admiração aos argentinos, conversava com muitos deles na
língua de Cervantes.
Os
meus interlocutores se admiravam e diziam: Brasileiro falando castelhano!
Guardo
boas recordações da Argentina e do seu povo. Lamento que o avanço do tempo não
me permita voltar.
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