segunda-feira, 20 de junho de 2016

UM SERTANEJO NO CANADÁ




______UM SERTANEJO NO CANADÁ__________






Eu concluía os trabalhos de auditoria na filial da Trading-Company brasileira da cidade de Hamburgo, Alemanha.
O frio permanente de 10º abaixo de zero e a visão de uma eterna toalha branca de neve que cobria a cidade, davam-me saudade do calor do Rio de Janeiro e já me regozijava pelo momento da minha viagem de volta ao lar.
Eis que recebi instruções para voar para Toronto (Canadá), com a missão de auditar as operações financeiras e contábeis da filial.
O meu espírito enevoou-se. Conhecer o Canadá apresentava-se como um sonho. Entretanto, era inverno e eu tinha conhecimento de que o país era um dos mais frios do mundo. A temperatura atingia até 60º abaixo de zero nas regiões mais frias.
Contudo, o desejo   de conhecer o mais moderno e um dos mais ricos países do mundo me fez esquecer a ameaça do tempo.
De Hamburgo fui para Frankfurt.
Num voo da Lufthansa, que demorou dez horas, transportei-me para o Canadá.
A viagem não foi cansativa, pois o pessoal de bordo tratava os passageiros com o carinho de uma babá e oferecia bebidas desejadas pelos deuses.
Ao penetrar no território desse país gigantesco, o enorme pássaro branco baixou as asas e passou a voar a baixa altura. A boa visibilidade me permitia vigiar das alturas as regiões atravessadas. Voamos cerca de 2.000 quilômetros e eu notava que a paisagem branca, por causa da neve, era uniforme. A visão dava ao observador a impressão de que o país estava coberto por fantástico lençol de gelo.
Descemos no moderno aeroporto de Toronto. O meu coração batia forte, emocionado. Eu tinha a impressão que sonhava.
O Canadá não exigia visto de entrada para brasileiros.
Fui conduzido ao setor de emigração. Atendeu-me um senhor de nacionalidade portuguesa que teimava em interrogar-me em português. O seu sotaque me pareceu horrível, quase incompreensível. Eu teria preferido que ele falasse inglês, francês ou espanhol.
Perguntou-me logo o motivo da minha entrada no Canadá. Disse-lhe que era auditor e tinha por missão fazer trabalhos de fiscalização na filial de uma empresa brasileira situada em Toronto. O português não gostou da minha cara e fazia um inquérito minucioso. A entrevista se alongava. Eu me imaginava um brasileiro em processo pela inquisição.
Aquele interrogatório me parecia uma   provocação.
Exasperado, respondi: “senhor, eu não pretendo morar no Canadá, este país que me parece uma geleira. Eu amo o meu país, o Brasil. Eis aqui a minha passagem de regresso ao Rio de Janeiro”. Por último, o zeloso e antipático “patrício” perguntou-me quantos dólares eu portava. Mostrei-lhe os meus cheques-de-viagem e o sujeito carimbou o meu passaporte.
Aliviado, tomei um táxi e fui para o hotel de antemão reservado.
Preenchi uma ficha sem muitas perguntas, apanhei a chave do apartamento designado, caí na cama e dormi quieto como um urso em sua toca em estado    de   hibernação.
O dia amanheceu. Tomei um banho quente e desci para tomar o café. O hotel ficava perto do “shopping” em cujo interior estava instalado o escritório da filial. Decidi-me a chegar lá caminhando. Não nevava naquela manhã. O céu sem nuvens mostrava, orgulhoso, a sua cor azul. O sol brilhava forte, como no Rio de Janeiro.
Mas, uma surpresa me aguardava.
Na porta do “hall” do hotel havia um barômetro. Aproximei-me e fiquei espantado. Marcava 30º abaixo de zero. Dirigi-me à portaria e perguntei se o aparelho estaria com defeito, pois o sol brilhava com intensidade, não nevava e o céu limpo estava como um espelho.
O homem compreendeu logo que eu era estrangeiro.
Surpreendeu-se com a minha pergunta e me deu esta explicação.    Disse:        “o frio é justamente mais intenso quando não há nuvens para reduzir os seus efeitos”.
Voltei ao apartamento e vesti todas as roupas de frio que levava na mala, inclusive uma máscara protetora do rosto que havia comprado na Alemanha.
Vestido como um esquimó sai à rua levando um mapa da cidade. Nas praças, centenas de crianças robustas, vestidas de roupas coloridas, patinavam alegremente.
Andei quase um quilômetro e, de repente, visualizei um prédio de 70 andares que eu sabia anexo ao segundo maior “shopping” do mundo. É suficiente dizer que no seu bojo havia 60 restaurantes! A calefação era perfeita e eu me desfiz da roupa de frio, ali desnecessária.
E agora, aonde ficava a sede da filial? Recordei-me da minha infância quando praticava o conhecido        jogo            de    “quebra-cabeça”. Após perguntar muito cheguei ao endereço       desejado.
Apresentei-me ao diretor e iniciei as minhas tarefas, agora com maior experiência internacional.
O método de escrituração contábil estava perfeito; obedecia aos parâmetros teóricos e práticos do meu conhecimento. Felicitei o Contador canadense e elogiei-o no meu relatório, um procedimento único na minha vida como auditor.
Para a minha satisfação, o colega elogiou o meu inglês, embora me ensinasse a pronúncia canadense de algumas palavras.
A minha demora em Toronto foi de 20 dias.
Os meus percalços nessa cidade, inerentes a sujeito curioso, foram poucos. Citarei alguns.
Lembro-me que num domingo entrei num bonde sem saber o seu destino. A viagem demorou mais ou menos uma hora. No final do trajeto todos os passageiros desceram desse estranho meio de transporte já extinto no Brasil. Eu permanecia sentado. O condutor me achando uma ave fora do ninho aproximou-se e perguntou em inglês que me parecia alemão, por que eu permanecia no bonde. Disse-lhe ser brasileiro e estava a passeio, sem destino. Perguntei-lhe se ia regressar ao Centro da cidade. Entendi ele dizer que demoraria meia-hora. Caia neve e o frio cortava o meu corpo como uma faca.
Embora temendo não haver compreendido bem a informação do condutor, resolvi esperar.
O homem voltou, para a minha alegria.
O bonde movimentou-se e eu me senti feliz quando reconheci o lugar onde deveria descer. Acenei para o condutor que me respondeu  com um   sorriso.
E então voltei para o hotel sem desejo de nova aventura naquele dia congelado.
Na véspera de minha partida para o Brasil desejei visitar um museu famoso que ficava a uns 500 metros do “meu” “shopping”. Lá fora fazia mais de 30°c abaixo de zero. Confiando na montanha de roupas contra o frio que usava, dirigi-me   ao     museu.
Andei uns 100 metros. O frio era intenso como o de um “freezer”. Eu estremecia como um doente de malária. As orelhas, duras como pedra. Esfregava-as com violência, temendo que se quebrassem como vidro.
Resolvi sustar a visita e voltei ao “shopping” correndo como   uma   lebre.
Acho que devo dizer mais algumas palavras a respeito das visões que mais me impressionaram em Toronto, a mais populosa cidade do Canadá.
Existe ali um famoso zoológico, fechado aos visitantes no inverno.
Em Toronto levanta-se a mais alta torre do mundo 500 metros. No seu topo pousa um restaurante. Sobe-se de elevador sem parada intermediária. Tive receio de dano à minha pressão arterial e limitei-me a observar de longe aquela Torre de Babel.
O guia informava ser o prédio da Prefeitura de Toronto o mais moderno e mais bonito do mundo. Visitei-o e acho que o guia não mente.
Num dia qualquer eu passeava pelas ruas do Centro da cidade, sem rumo certo. Chovia neve, sem cessar. Na esquina da rua muito larga que eu percorria, estanquei à frente de um edifício de beleza fantástica. Era todo de vidro cor- de rosa. No topo eu lia: Banco da Nova Escócia, em inglês. Apesar do bombardeio da neve permaneci ali uns 20 minutos, “namorando” aquele produto do gênio humano.
Não vi favela em Toronto. Não vi pobres ou miseráveis.
O Canadá é uma nação de homens robustos como pau-d’arco.
Eu me lembrava da minha juventude quando via no cinema a famosa cavalaria montada do Canadá.
Os militares pareciam gigantes saídos das páginas dos contos de fada. Eu duvidava. Pensava ser erro de visão, e agora eu tinha a oportunidade de esclarecer a dúvida. Era verdade. Os homens da cavalaria montada canadense são enormes e elegantes em suas fardas vermelhas. Os grandes e belos cavalos seriam da mesma raça do lendário PÉGASO.
Impressionou-me, outrossim, o palácio do governador inglês (hoje museu), construído no centro de uma praça bonita, creio que no ano recuado de 1630. O imponente edifício, de tijolos vermelhos, parecia ter sido inaugurado ontem. Num devaneio, eu imaginava que a qualquer momento ouviria o toque de clarins para anunciar a chegada ou a saída do governador, do seu palácio, que na hora da minha visita estava   fechado.
Devo dizer, finalmente, que a arquitetura do Canadá, na minha visão de leigo na matéria, pareceu-me     mais
 moderna e funcional do que a de Nova York ou Washington.
Tive a oportunidade de observar outras maravilhas
que não são para serem relatadas, mas para serem vistas.
Durante a minha estada nesse país rico, fabuloso, civilizado, infelizmente congelado no inverno, senti saudade do clima e do sol do meu sertão, principalmente quando a temperatura atingia 40° acima de zero.
Ao pisar novamente o solo do meu país beijei o chão, imitando o PAPA. Senti-me feliz e orgulhoso de ser brasileiro!

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