segunda-feira, 2 de maio de 2016

carta e poema O CORVO



Aracaju, 20-4-2016.

Prezados leitores que prestigiam este blog
No dia de ontem foi divulgado neste blog a minha tradução do famoso poema O CORVO.
Por motivo que foge a minha compreensão, esse poema foi publicado na internet, mutilado.
Por sorte, encontrei o original que ora faço pôr neste blog.
Rogando desculpar-me, subscrevo-me atenciosamente.

Edson Valadares


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O CORVO

Edgar Allan Poe
(Tradução de Edson Valadares)




Uma vez, numa meia-noite triste, enquanto eu pensava, fraco e cansado,
Sobre um livro de doutrinas singulares e curiosas, esquecidas:
Enquanto cabeceava, quase cochilando, repentinamente escutei um leve toque
Como se alguém gentilmente batesse, batesse na porta do meu quarto.
“È algum visitante”, murmurei, “batendo na porta de meu quarto-
Só isso e nada mais”.


Ah, lembro-me nitidamente que era num dezembro frio,
E, cada brasa morrendo forjava seu fantasma sobre o piso.
Ansiosamente esperei o dia seguinte; - em vão eu pensei tomar emprestado
De meus livros o fim da tristeza- tristeza pela perda de Leonora-
Para a radiante e rara donzela a quem os anjos chamavam Leonora-
Aqui sem nome para sempre.


E o inconstante farfalhar, macio e triste de cada cortina púrpura
Arrepiava-me – preenchia-me de temores fantásticos nunca antes sentidos;
Assim ate agora, para acalmar as batidas do meu coração, estive repetindo:
“Será algum visitante rogando entrada na porta de meu quarto-
Algum visitante tardio rogando entrada na porta do meu quarto;
É isto e nada mais”.


Agora minh’alma fica mais forte; não mais hesitante,
Senhor, eu disse “ou senhora, o teu perdão eu imploro;
Mas de fato eu cochilava e gentilmente você batia,
E fracamente você batia, batia à porta do meu quarto,
E eu mal estava certo de escutar você” - então abri a porta;-
Havia escuridão e nada mais.


Perscrutando a escuridão, permaneci muito tempo, assombrado, medroso, duvidando, sonhando sonhos que nenhum mortal ousou sonhar antes;
Mais o silencio era ininterrupto, e a calma não cessava,
E a única palavra falada era a palavra sussurrada, “Leonora!”.
Então eu sussurrei, e um eco murmurou de volta a palavra, “Leonora!”.
Apenas isto e nada mais. 
  

Voltei para o quarto, a alma queimando dentro de mim,
Logo depois ouvi uma batida mais forte do que antes.
“Seguramente”, eu disse, “seguramente há algo na treliça de minha janela
Deixe-me ver, então, que ameaça e investigue este mistério-
Que meu coração aquiete-se um momento, e investigue este mistério -
É o vento e nada mais”.


Neste momento fechei a persiana, quando com um safanão e excitação,
Ali pousava um Corvo majestoso dos santos dias do passado.
Ele não fez a menor vênia; nem num minuto moveu-se,
Mas, com aspecto de Lorde ou senhora,
Empoleirado acima da porta do meu quarto-
Empoleirado, e sentado, e nada mais.


Então este pássaro de ébano, logrando minha triste fantasia em sorriso
Pelo grave e duro decoro de suas feições,
Embora sua crista tosqueada e barbeada,
Vós, eu disse, “a arte não garante nenhum covarde,
Assustador, sinistro e antigo Corvo vagando na praia noturna
Diga-me o que teu orgulhoso nome está nas praias das noites plutônicas! ”
Disse o Corvo, “Nunca mais”.


Ao ouvir diálogo tão claro, muito me admirou esta deselegante ave,
Embora pouco compreensiva sua resposta - pequeno diálogo surgiu;
Porque não podemos conceber que nenhum ser humano.
Tenha sido afortunado ao ver um pássaro acima da janela do seu quarto –
Pássaro ou animal sobre o busto esculpido acima da janela do seu quarto,
Com tal nome como “Nunca mais”.


Mas o Corvo, sentado sozinho naquele plácido busto, falou apenas
Aquela única palavra, como se sua alma naquela única palavra dita de um jato
Nada mais então ele emitiu; nem uma pena ele agitou –
Então eu apenas murmurei: “outros amigos voariam antes –
No dia seguinte ele me deixaria e minhas esperanças voariam antes.
Então o pássaro disse, “Nunca mais.
 
  

Assustado pelo rompimento do silêncio, pela resposta apropriadamente dita,
“Sem dúvida”, eu disse, “o que ele murmura é só o que sabe,
Apanhado por algum mestre infeliz de quem cruel desgraça
seguiu depressa e mais depressa até esta canção fosse uma carga
Até o canto de sua esperança que melancolicamente sugere como carga
De “nunca-nunca mais”.


Mas o Corvo ainda enganando minh’alma triste em sorriso,
Atirei um assento acolchoado na frente do pássaro, o busto e a janela;
Então sobre a queda aveludada, decidi ligar
Fantasia com fantasia, pensando o que este odioso pássaro pousado,
O que este cruel, deselegante, horrível, lúgubre e agourento pássaro do passado,
Significava grasnando, “Nunca mais”.


Estive tentando adivinhar mas nenhuma expressão silábica
Relativa a ave cujos olhos terríveis queimavam no peito o coração
Estive adivinhando isto e mais com a cabeça reclinada
Sobre no forro acolchoado de veludo que a luz da lâmpada regozijava
Mas o forro de veludo violeta com a luz da lâmpada que regozijava
A ave insistia, ah, nunca mais!


Então, pareceu-me, o ar tornou-se mais denso, perfumado por turíbulo invisível
Tangido por Serafim cujas passadas retiniam no piso forrado
“desgraçado,” gritei, “teu Deus te permitiu – por estes anjos enviados a ti.
Trega–trega; esqueça as lembranças de Leonora!
Beba, beba esta espécie de remédio mágico e esqueça esta Leonora perdida
Disse o Corvo, “Nunca mais”.



“Profeta”, eu disse, “coisa do mal-profeta seja, se ave ou demônio! -
Se o Diabo te enviou, ou se a tempestade te arremessou da praia,
Solitário e admitido nesta terra deserta e encantada-
Neste lar de medo e assombro- diga-me com sinceridade, imploro
Existe – existe bálsamo em Galaad?- diga-me, diga-me, imploro!
Disse o Corvo, “Nunca mais”.
  
   
 

“Profeta”, eu disse, “Coisa do mal! – profeta ainda, se ave ou demônio!
Porque aquele céu suspenso sobre nós- por aquele Deus que ambos adoramos-
Diga a esta alma triste se, no distante Além,
Eu deva cumprimentar uma virgem santa que os anjos chamam de Leonora
Cumprimentar uma donzela rara e radiante que os anjos chamavam de Leonora
Disse o Corvo, “Nunca mais”.


“Seja aquela palavra nosso sinal de partida, ave ou demônio!” gritei arrogante
“Volte para a tempestade e a praia noturna de Plutão!
Não deixe nenhuma pluma preta como lembrança daquela mentira que a tua alma falou:
Deixe  minha solidão intacta! – deixe o busto acima da janela!
Retire teu bico para fora do meu coração, e retire tua figura de minha porta,
Disse o Corvo, “Nunca mais”.


E o Corvo, sem adejar, ainda está sentado, ainda está sentado
Sobre o busto pálido de Palas logo acima da janela do meu quarto;
E seus olhos tem toda a aparência de um demônio que sonha
E a luz da lâmpada escoando sobre ele reflete sua sombra no piso;
E minh’alma sai daquela sombra que mente flutuando no piso.
Deve ser suspensa- nunca mais.



Ilhéus, 6-10-2001



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