CRÔNICAS
DA
CIDADE DE ARACAJU,
CAPITAL DO
ESTADO DE SERGIPE, BRASIL.
ANO 2011
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SETEMBRO
7. Nesta data histórica levantei-me cedo
para assistir ao desfile militar e civil que às oito horas se iniciaria na
Avenida Barão de Maruim.
Enquanto na cidade de São Paulo
estavam previstos apenas 4.000 assistentes do desfile em homenagem à nossa
pátria, aqui, nesta pequena capital de 579.000 habitantes, compareceram perto
de 20.000 patriotas que aclamavam com palmas vigorosas os desfilantes.
Antes do desfile começar eu
observava com curiosidade as pessoas próximas ou que passavam à procura de
lugar.
Chamou a minha atenção um casal de meia-idade,
ambos de estatura média. O homem ostentava uma enorme barriga como se tivesse uma
gravidez de nove meses. A mulher obesa, mostrava ao público uma barriga de
hipopótamo.
O interessante é que
se abraçavam e se beijavam como dois jovens apaixonados.
Começa o desfile, comandado por uma robusta
mulher, quando no passado esse lugar pertencia a um militar graduado.
Seguiu-se a banda militar do 28 BC, que tocava
hino patriótico.
Logo
atrás a tropa do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, Polícia Militar, Corpo
de Bombeiros e remanescentes da FEB.
Em
seguida, desfilariam os colégios.
Nesse instante, senti a vista turva.
Com receio de desmaiar na via pública, saí
dali e a passos largos voltei para casa. Ao tirar a pressão, ela estava 10x5,
quando o meu normal é 13x8. Não sei o
motivo. Algumas horas depois a pressão normalizou-se.
E ainda
sobre a parada.
Observei uma mulher portando
uma espada, outra um fuzil, e outra uma metralhadora.
Digo que a mulher
deveria usar no peito uma flor e jamais uma arma de fogo.
16. Após uma vivência de 50 anos na cidade
do Rio de Janeiro, por motivos de família, regresso a Aracaju, onde acontecerá
a descida das cortinas do último ato do teatro da minha existência neste
planeta maluco.
Nos primeiros contatos com as pessoas, começo
a me incomodar com os usos e costumes aqui praticados, os quais me parecem
alheios à Razão e ao Bom Senso.
Em verdade, sinto um choque de cultura a
começar pelo modo de falar (sotaque) da maioria da população.
Tenho a sensação de que me transportei para
outro mundo.
Caso eu me propusesse a relatar tudo aquilo
que me incomoda, escreveria, por certo, um grosso volume.
Para não cansar os raros leitores das minhas
crônicas, ponho aqui um ponto final.
ANO 2012
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ABRIL
8.
A manhã de hoje apresenta-se calma
e iluminada pelo Sol. o Rio Sergipe, visto do 13º andar do edifício onde acompanho
a passagem do tempo, parece dormir tranquilamente, despercebido do que está
acontecendo no mundo. O céu azul. Entretanto, próximo ao horizonte vê- se uma
cordilheira de nuvens brancas e escuras, imóveis como as montanhas. Uma brisa
leve como a seda sopra e espanta o calor.
Essa visão me faz conjecturar sobre os
mistérios da Natureza. E a minha mente pergunta: Deus existe?
ANO 2014
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JULHO
30. Nesta cidade de Aracaju vivo
enclausurado.
Tendo estado na Europa, na América do Norte,
na América Central e na América do Sul, conhecido muitas das mais famosas
cidades do mundo; as capitais de 19 Estados do Brasil e muitas outras cidades;
tendo residido durante 50 anos na capital do Estado do Rio de Janeiro; 3 anos
em Belém do Pará e 8 anos em Salvador, Bahia; atingido a idade de 90 anos, nada
em Aracajú chama a minha atenção.
Desse modo, eu havia encerrado o interesse
pela crônica.
Hoje, porém, um acontecimento singular me
convidou a reviver este gênero literário de que dá notícia o presente livro.
Na tarde de hoje, eu e a Deise comparecemos a
uma clínica, a fim de consultarmos uma médica endocrinologista, pois ambos
sofremos da tireoide.
Após as formalidades burocráticas,
sentamo-nos. Eram 13h30.
A médica começava a atender os seus pacientes
às 14h30.
Ressalvo que nessa
clínica havia duas dezenas de mulheres médicas.
Apenas um médico.
Enquanto eu estava sentado, no aguardo de ser
convidado a ingressar no consultório da doutora, os meus olhos curiosos
examinavam o público presente. Cerca de 30 pessoas.
Crianças corriam e gritavam no recinto, sob o
olhar complacente dos seus pais.
Para passar o tempo, eu examinava com os olhos
de Argos, as pessoas que entravam e saiam.
Aquele grupo de pessoas de silhueta variada me
parecia representar uma pequena amostragem da raça sergipana.
Eu era o único idoso presente.
A maior parte dos personagens era da cor
parda; alguns negros.
As suas vestimentas
indicavam que pertenciam à classe
média.
A maior parte usava óculos, que eu não uso aos
90 anos de idade.
As mulheres e uns poucos homens presentes
eram, em sua maioria, obesos. Eu calculava que algumas delas pesavam 100 quilos
ou mais.
A clínica esteve 100% lotada desde que
chegamos até quando saímos.
Se alguém me pedisse para dar uma opinião
sobre Aracaju, eu responderia: esta cidade de 600.000 habitantes me parece ser
um enorme hospital.
As centenas de clínicas aqui existentes estão
sempre lotadas de segunda à sexta-feira.
Quem adoece gravemente nos dias de sábado ou
domingo deve recorrer às emergências dos hospitais que vivem superlotados dia e
noite.
As autoridades da saúde deveriam fazer
campanhas permanentes de prevenção das doenças. Contudo, essas autoridades
somente se preocupam com o doente.
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