Aracaju, 9 de setembro de 2018.
Revista CUMBUCA
– Nº 19
A atenção do Editor
Amaral
Cavalcante.
Prezado senhor.
Preâmbulo
Eu,
Edson Almeida Valadares, filho de Pedro Valadares e Maria Almeida Valadares, no
dia 7 de janeiro de 1924, nasci na fazenda Buril, sita no município de Simão
Dias.
Aos
seis meses de idade, os meus pais me doaram aos meus avós, proprietários da fazenda
Boqueirão, sita no município de Tobias Barreto, a seis quilômetros do hoje
distrito Samambaia, onde aos 9 anos de idade conclui o curso primário.
Aos
10 anos, o meu pai me resgatou e voltei a morar com a família na cidade de
Boquim.
Decorrido
um ano, os meus pais se separaram.
A
minha corajosa mãe arrumou as malas e migrou para Aracaju, onde não conhecia
ninguém.
Alugou
casa na rua Santa Luzia.
Colocou
na frente da casa um anúncio em que se dizia modista (palavra da época) e
professora de corte e costura.
Rapidamente
se fez conhecida das mulheres pertencentes à alta sociedade, inclusive a esposa
do interventor Maynard Gomes.
Ela
manteve e educou nove filhos.
A
minha mãe foi a maior estilista de Sergipe.
Mais
tarde, embarcou num navio do Loyde, e viajou para a cidade do Rio de Janeiro.
Numa
empresa carioca fez um curso de cabeleireira, que durou 30 dias.
A
firma, Niase, vendeu a ela toda a parafernália necessária à instalação do
primeiro salão de beleza de Aracaju, sita à rua Pacatuba.
Ela trabalhava noite e dia.
Aos
42 anos de idade morreu de leucemia no Hospital de Cirurgia.
A
minha irmã, mais idosa, cuidou dos irmãos menores de idade.
Em
1945 eu recebi diploma de Contador. Em 1950 embarquei num avião da Varig e
migrei para a cidade do Rio de Janeiro.
Em
1956 fiz concurso para Contador da PETROBRAS. Dentre os mais de cem candidatos eu
passei em primeiro lugar. Como prêmio, fui nomeado Contador da unidade, com
sede em Belém do Pará.
Aproximando-me
dos cem anos de idade, a minha saga continua.
Sou
candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.
Após
este longo prólogo, penetro no principal assunto desta missiva.
Convidado
pelo doutor José Anderson Nascimento, eu assisto às sessões da Academia Sergipana
de Letras (ASL).
Na última sessão recebi a revista CUMBUCA, a
qual acabo de ler.
Rogo
a permissão para oferecer a V. Sª alguns comentários, a título de colaboração.
Salvo erro ou engano, eu não vejo os
nomes dos articulistas ou colaboradores.
Este
exemplar me faz recordar fatos que me aconteceram quando morei nesta capital
até janeiro de 1950.
Aos
12 anos de idade eu concluí em três meses um curso de datilografia, o qual
durava um ano.
Nessa idade, a minha mãe me colocou no
cartório de Heráclito Barros.
Eu
já era o datilógrafo mais rápido do Brasil. Em 1939 houve na Suécia um concurso
que visava a escolher o datilógrafo mais rápido do mundo. O vencedor foi um sueco.
Coloquei
papel na máquina de escrever e digitei a mesma quantidade de dígitos do sueco.
Durante
um ano, eu datilografava procurações e longas escrituras. Jamais cometi um
único erro!
Aos
12 anos de idade, portanto, eu já era independente, financeiramente, da minha
mãe.
Num
certo dia ingressou no cartório o advogado Alfredo Rollemberg Leite. Ele me viu
datilografando uma escritura na velocidade do relâmpago.
Aproximou-se
de mim, e perguntou: Quanto você ganha aqui?
Respondi:
10 mil réis.
Disse-me
ele: você quer trabalhar comigo? Pago cem mil réis.
No
dia seguinte a minha cadeira do cartório estava vazia.
Do
exposto, comecei a ser explorado aos doze anos de idade.
Durante
a minha existência, trabalhei em nove empresas privadas e duas estatais.
Aos
27 anos, um banco carioca anunciou no jornal do Banco do Brasil que necessitava
de um Contador-geral.
Sem
nunca ter sido bancário, fui aprovado em primeiro lugar.
Literatura
A
partir dos 70 anos de idade, já aposentado e ocioso, comecei a escrever em
prosa e verso, objetivando publicar livros.
Até
agora, os livros publicados e a publicar somam 10.000 páginas.
O
saudoso Mário Cabral, e outros intelectuais da Bahia me nomearam:
a) O maior poeta do Brasil e do mundo no século XXI;
b) Contista do nível do russo Tchecoff;
c) Cronista do nível de João do Rio;
d) Poeta satírico do nível de Gregório de Matos;
e) Autor de um Diário mais bem escrito do nosso idioma;
f) Epistológrafo (discípulo da condessa francesa Mme DE SÉVIGNÉ;
g) Epitafista, etc.
A
TABA Cultural da cidade do Rio de Janeiro acaba de publicar o meu livro VERSOS
no ESPELHO (726 páginas). O mais belo de poesia jamais publicado.
Na
PETROBRAS, durante 20 anos redigi uns mil relatórios, sempre elogiados pelos
meus superiores hierárquicos.
Como
Auditor de uma Trading- Company do Banco do Brasil (COBEC), procedi a
auditorias Contábeis na França, Alemanha, Canadá, Estados Unidos (duas vezes) e
no Panamá.
Estudei
dez regiões, a doutrina espírita, a Quimbanda africana, mas o meu pensamento é
livre como o Condor que, altaneiro, voa sobre os Andes.
Voltando
à revista em foco.
O
advogado Alfredo Leite me colocou na cooperativa dos Usineiros de Sergipe, presidida
pelo banqueiro e futuro Senador Walter do Prado Franco, de quem eu acumulava o
cargo de Secretário.
Em
princípio de 1945, ele me fez Secretário de Leandro Maciel, o que durou quase
um ano.
A
minha obrigação era datilografar cédulas para serem distribuídas aos eleitores.
Num
certo dia, um compincha de Walter Franco me dedurou, acusando-me de ser
comunista.
Sem
me ouvir, Walter Franco e Leandro Maciel entraram na Cooperativa, e aos gritos,
disseram: Você, comunista, está demitido.
Essa foi a maior injustiça que sofri no
decorrer da minha vida.
Eu
nem sabia o significado de comunista...
O
Destino me vingou.
Eles
estão dormindo num cemitério. Eu continuo vivo e com saúde.
Atenciosamente,
Edson Almeida Valadares
(Descendente
do conde português Jorge Valadares, médico da expedição de Tomé de Souza).
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