Edson
Valadares: Contador das antigas e poeta
Publicada: 27/09/2009
Texto: Osmário Santos / Foto: Alberto Dutra
Edson Almeida Valadares nasceu a 7 de janeiro de 1924, na cidade de Simão
Dias/SE. Seus pais: Pedro Batista Valadares e Maria Almeida
Valadares.
O pai fugiu de casa aos 18 anos de idade sem comunicar aos familiares. Após
20 anos, retorna cheio de dinheiro diante do trabalho que fez junto ao
marechal Rondon no desbravamento da Amazônia. Compra a fazenda Buril e
passa a morar na cidade de Boquim. Preocupado com a educação dos filhos,
fixa residência em Aracaju.
Com seis meses de idade, o menino Edson foi doado aos avós, Estandislau
Carlos de Almeida –fazendeiro – e Maria Fabrícia de Almeida.
Na fazenda Boqueirão, no povoado Samambaia, no município de Tobias Barreto,
na proximidade de Poço Verde, seu tempo de infância.
Começa os estudos numa pequena escola da rede estadual de ensino, instalada
no povoado, e lá conclui o curso primário. Caminhava 12 quilômetros por dia
para chegar à escola, que tinha apenas uma professora normalista, que
ensinava de tudo e que pela sua competência representou muito na vida do
atencioso aluno.
Como seu pai, Pedro Valadares, desejava ter seus nove filhos formados e com
o título de doutor. Aos dez anos, tira Edson da casa dos avós, traz para
sua residência em Boquim e o coloca para estudar numa escola particular
pelo tempo de um ano.
Com 12 anos de idade vem estudar em Aracaju, como aluno de uma professora
famosa, mas que a distância do tempo impede a lembrança de seu nome. Ao
término das aulas, com sucesso, faz exame para ingressar no curso de
Contabilidade da famosa Escola Técnica de Comércio Conselheiro Orlando. Com
seis anos de estudos conquista o diploma.
É matriculado por sua mãe numa escola de datilografia, quando contava com
12 anos. Ao final do curso de três meses, estava pronto para conseguir
emprego pela sua agilidade e precisão no teclar. “Cheguei a bater três mil
toques em dez minutos”.
Após o curso de datilografia, deixa de receber mesada de sua mãe pela
conquista de trabalho.
Tem o primeiro emprego ainda menino, no cartório de Heráclito Barros, na
proximidade do Cinema Rio Branco de muitas histórias na vida de um Aracaju
do passado. “Era datilógrafo, batia escritura e procuração e não tinha um
erro”.
Com 13 anos recebe proposta de um melhor salário e passa a trabalhar para o
advogado Alfredo Rollemberg Leite, irmão do ex-governador de Sergipe, José
Rollemberg Leite. “Eu ganhava 10 mil réis por mês e ele me ofereceu 100 mil
réis. O Alfredo era um advogado famoso”.
Um tempo em que não existia o processo que permite obter fotocópias por
meio de máquina copiadora e as cópias dos processos eram feitas através da
datilografia. O serviço do jovem Edson incluía viagens pelos cartórios de
diversas cidades do interior sergipano para copiar datilograficamente os
processos do advogado para quem trabalhava.
Por ser um exímio datilógrafo, aos 16 anos de idade consegue um melhor
emprego na Cooperativa dos Usineiros de Sergipe, instalada na chamada Rua
da Frente (Rio Branco), esquina com Laranjeiras. Além dos trabalhos
diversos na cooperativa, passa a prestar serviço ao usineiro Walter Franco
antes da sua conquista nas urnas para o Senado da República. “Um dia ele me
chamou e me disse que passaria a trabalhar para Leandro Maciel, que foi
governador de Sergipe”.
“O
trabalho que me passou foi o de bater chapa na máquina de datilografia para
ser distribuída num envelope para o eleitor, com os nomes de seus
candidatos na proximidade e no dia da eleição”.
Acusado de comunista sem ser e por nunca ter pensado, é demitido da Cooperativa
sem ter direito a se defender.
Passa três meses desempregado e com a chegada em Sergipe da empresa ITATIG Petróleo,
Asfalto e Mineração, da família Priolli, em São Paulo, na sua tentativa de
descobrir petróleo no Estado, consegue emprego pelo seu diploma e
conhecimento de contador e começa a trabalhar em escritórios da empresa nas
cidades de Socorro e de Laranjeiras. “Ela descobriu salgema em Socorro e
vendeu muito sal para o Rio Grande do Sul”.
Depois de um bom tempo, a ITATIG passa a sonda que fazia uso em terras
sergipanas para o Conselho Nacional do Petróleo e encerra as atividades em
Sergipe, mas Edson continua na empresa por receber convite do diretor
Orlando Priolli para trabalhar na sede no Rio de Janeiro.
Depois de cinco anos na ITATIG, passa para outra etapa profissional com
toda corda e gosto, por ter se dado bem com o Rio, numa época em que era a
capital do Brasil. “O Rio de Janeiro foi o meu paraíso. O lugar em que
morei durante 50 anos”.
“Fui bancário em 1951 e trabalhei
como contador no Banco Lino Pimentel, onde passei três anos. Depois fui
para o Mercantil de São Paulo. Lá fui o chefe do setor de conta corrente
por três anos. Trabalhava 18 horas por dia e às vezes 20”.
“O árduo trabalho chegou ao final
quando respondi um anúncio de emprego para o escritório da Metro-Goldwyn-Mayer,
importante Companhia, envolvida, principalmente, na produção e distribuição
de filmes para o cinema e para a televisão. Conquistei emprego de
sub-contador, depois de ter sido sabatinado pelo contador-geral da Metro,
um húngaro que veio acompanhar a instalação do escritório da companhia no
Rio de Janeiro”.
Na Metro apenas um ano de trabalho, por ter conseguido emprego no Grupo
Joaquim Domingos da Silva com salário superior. “O grupo fabricava fogão e
tinha uma Casa Bancária, onde trabalhei por dois anos”.
Faz concurso para a Petrobras e passa em primeiro lugar. Entre cem
contadores só passaram dez. Fui nomeado contador da Unidade SRAZ, Pará.
Mora três anos na cidade de Belém e parte para a Bahia a fim de trabalhar
na Região de Produção da Bahia (RPBA). “Na época tinha 12 mil empregados,
400 embarcações, dois mil veículos e no setor administrativo que respondia
comandava 200 funcionários. Não existia computador, trabalhávamos com
tabelas de custo e tínhamos de apurar o custo de cada sonda, de cada
embarcação, etc.”.
“Na
verdade, ninguém queria ser chefe do setor de contabilidade. Um deles suicidou-se,
outro foi demitido e “cheio” de Belém aceitei, mas foi o maior abacaxi da
minha existência” (risos).
Em 1968, é chamado para trabalhar na sede da Petrobras no Rio de Janeiro,
no cargo de assistente da Diretoria Financeira. “Naquela época, a Petrobras
começou a trabalhar com manuais. Juntamente com um colega, preparamos o
primeiro Manual Financeiro”.
Aposenta-se como funcionário da Petrobras em 1977 e a convite de Sílvio
Massa, colega do seu tempo na Petrobras e que é nomeado presidente da COBEC,
passa a ser assistente do contador auditor-geral. “Três meses depois, o
auditor-geral foi para a Petrobras e fiquei no lugar dele. Na
COBEC
foram oito anos. Auditei na França, nos Estados Unidos, no Canadá, Alemanha
e Panamá.
Como sabia inglês, francês, espanhol, um pouco de italiano e português, me
virei” (risos).
Mora por seis anos na cidade de Ilhéus/BA com todo o tempo do mundo.
“Resolvi escrever poesias e fiz um livro de contos”.
Casado com uma sergipana de Tobias Barreto e pelo desejo das duas filhas de
estudar em Aracaju e cuidar da mãe, deixa Ilhéus e volta à capital de
Sergipe em 2001, fixando residência na Rua Arauá.
É pai do professor universitário Dr. Carlos Roberto Valadares, com
residência no Rio de Janeiro, de Edmayre Valadares, a quem considera como
uma das melhores psicólogas do Brasil e que também mora no Rio de Janeiro,
de Hércules Valadares, que mora em Aracaju e cuida da mãe, de Débora
Valadares e Deise Valadares, poeta e psicóloga formada pela Universidade
Federal de Sergipe.
Na volta definitiva à capital de Sergipe, apaixona-se e casa com Maria
Zenaide de Almeida.
“O meu livro de poesias com 500 páginas acha-se numa editora carioca para
uma próxima edição”.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário